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Like A Man

07 de Dezembro, 2016

Vamos lá falar de um assunto tabu para homens: a depressão!

LiAM

depressao-masculina

É verdade, parece uma coisa pouco “à homem” isto da depressão masculina. Mas enganem-se, caros senhores, é um mal que nos afeta cada vez mais e é uma doença silenciosa que pode ter consequências muito nefastas, quer para quem sofre do mal quer para quem nos rodeia.

 

Vamos lá então colocar o dedo na ferida! Quem é que admite que já passou por uma depressão ou que está a passar por uma? Quem é que já procurou ajuda médica para ultrapassar esta doença que cada vez mais nos afeta nestes tempos modernos e stressantes. Quantos de vós conhecem amigos e familiares (sobretudo homens) que conseguem falar abertamente sobre isso? Poucos, muito poucos. Parece que isto da depressão é uma coisa pouco viril. Pouco “à macho”.

 

Que é só para gente mais fraca e, como sabemos, dos fracos não reza a história. Mas os fatos estão aí, a depressão atinge cerca de 250 milhões de pessoas em todo o mundo, e segundo uma notícia recente 20% da população portuguesa sofre de depressão. E atenção que este número não está nem sequer dividido por géneros e baseia-se nos dados clínicos registados. Infelizmente serão muitos mais e tanto afeta homens como mulheres. Mas elas, como são mais inteligente, admitem mais facilmente que têm depressões e procuram ajuda muito mais facilmente. Nós não! Fechamo-nos. Não admitimos. A sociedade não espera isso de nós e temos a mania que somos fortes! E, neste caso, somos apenas estúpidos… Mas afinal o que é isto da depressão? É o contrário da felicidade? Não! Aliás, infelizmente, o ser humano não consegue ser feliz 100% do seu tempo – embora por vezes quando vê realidades piores que as suas admite que afinal é feliz. Sim. Há mesmo vidas piores que as nossas.

 

A depressão é um estado que pode vir e ir sem sequer notarmos, mas é quando ela fica permanente e começa a comandar a nossa vida, o nosso trabalho e as nossas relações. É aí que devemos começar a tomar atenção e procurar ajuda. A sua causa tem a ver com muitos fatores, perdas de alguém, de emprego, de estatuto social, de falta de objetivos, de stress laboral, do tal mid life crisis, etc. Muitos fatores. E nos tempos que vivemos tudo se une para termos depressões. Nunca o ser humano foi posto a tanta informação, stress e objetivos. Isso tudo influencia e muito.

 

Portrait Of Lonely Depressed Man

 

Atenção, não tenho nenhuma formação clínica no assunto, só que há 10 anos, e admito aqui, passei por uma depressão de forma ligeira, mas que durante 9 meses me afetou e me alterou comportamentos. Os assuntos que a provocaram foram vários, entre eles algumas relações familiares mal resolvidas e o regresso a Portugal depois de viver dois anos na Holanda. Assimilei a realidade de pensamento de outra cultura tão facilmente que foi muito difícil voltar a pertencer ao local onde nasci. Adiante. É complexo demais para explicar por estas linhas. E até porque parece tonto, porque nem parece uma depressão à séria. Mas aconteceu e durante meses nada era bom. A comida não sabia a nada, os jogos de futebol que tanto gosto de ver davam-me a mesma emoção que aqueles canais com paisagens paradisíacas e música de elevador, e o estar com os melhores amigos era uma maçada, não me identificava com nada nem com eles. E odiava Lisboa. Não estava bem em lado nenhum, e sentia que tinha uma vida miserável. Contudo, tinha um bom emprego, era (e sou) respeitado profissionalmente, ganhava mais do que ganho hoje em dia, tinha viagens frequentes, entrevistava pessoas culturalmente muito interessantes e era muito saudável. Mas a dor abdominal com que acordava e que se arrastava pelo dia inteiro e o mal-estar mental era permanente. E não me deixava ser eu.

 

Mas para mim aquilo era novo. Não percebia o que estava a acontecer e sofria em silêncio. Sem perceber muito bem o que se passava ou como saía daquilo. Até pensei que devia voltar à Holanda  para a coisa passar - o que não fiz e ainda bem porque algo muito importante aconteceu e mudou a minha vida para sempre (um dia conto esta história). Mas foi no primeiro ataque de pânico em que tive de sair do escritório onde estava e caminhei à chuva torrencial durante uns longos minutos (tipo filme) que percebi que tinha de me tratar. Não queria viver assim para o resto da vida, que tinha muita coisa boa em mim que me podia fazer sentir bem, tinha amor para dar aos outros e tinha uma vida inteira pela frente para ficar com medo de ter medo. E objetivos. Pessoais e mesmo materiais. Na altura procurei uma psicoterapeuta e passados uns meses de sessões de sofá, e alguns euros bem empregues, a coisa endireitou-se. Nem precisei de tomar anti-depressivos nem nada. E hoje em dia já consigo notar os sinais de alerta se alguma coisa indicia uma pequena depressão e... so far, so good.

 

Ora, esta história só é conhecida de muitos poucos amigos. Quase ninguém sabe disto. Mas faço-o aqui publicamente não para terem "peninha" de mim mas para dar o exemplo a outros homens (e mulheres) que caso tenham um problema deste género têm mesmo de o resolver. E para vosso bem! Para que a depressão não cresça e fique monstra e não mande na vossa vida e de quem vos rodeia. Não são menos homens por isso! Sim, um dos problemas é mesmo esse porque não é só há uma questão masculina de indicar fraqueza, mas também há uma questão: que nos faz pensar mil vezes antes de admitirmos a depressão: os antidepressivos podem diminuir a líbido. Ou seja, em vez de um problema passamos a ter dois. Claro que nem todos os medicamentos o fazem e cada homem reage de forma diferente – somos seres fisicamente diferentes. Mas é, sem dúvida, um dos itens que afasta os homens de procurarem ajuda. Somos machos, pá! Isso da depressão é coisa de maricas… e se a libido se vai… é o fim! Mas falem com um médico sobre isto porque há formas de dar a volta ao assunto, segundo sei. A questão é mesmo resolver um problema de cada vez. Primeiro a depressão e, quando ela estiver curada, a líbido volta. Mas o primeiro passo é analisarem-se, perceberem se a depressão é algo que pode ser tratada com a prática de desporto, de um hobby, de yoga, de reiki. Ou se é algo mais avançado e que tem de ter ajuda médica. Não tenham medo! As doenças psicológicas são uma realidade e não somos menos machos por isso. Somos sim, uns "grandes meninos" se não tivermos o discernimento de nos conhecer e analisar que estamos mal e que nos temos de tratar e que estamos a dar cabo da nossa vida e de quem nos rodeia. Tomar consciência dos problemas é muito importante, isso sim é de homem! 

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