"Uma tendência que tenho visto crescer é uma maior humanização, uma troca do digital pela vida real."
Nesta Conversa de Homens falámos com Rui Ventura, um dos homens fortes da comunicação e do marketing em Portugal. É presidente da Associação Portuguesa de Profissionais de Marketing e responsável pela Comunicação da Região Sul da marca Monster Energy. O Rui está sempre a viajar devido à profissão e aproveita para estudar e anotar muitas das tendências sociais e de consumo que estão a surgir. Além disso é pai e marido. E nesta conversa explica-nos como consegue combinar isso tudo e ainda ter tempo para conduzir a sua Vespa cor-de-laranja enquanto pensa no seu Vitória de Setúbal. A ler, mesmo:
És um “homem” do marketing. E por isso perguntamos, os homens portugueses tem um bom personal branding?
O personal branding não vem com B.I. , ou seja, qualquer pessoa, independente do seu país de nascimento pode desenvolver as suas competências de personal branding. Trata-se de uma opção, de valorizar as nossas capacidades interpessoais e transforma-las em fatores diferenciadores. Há quem consiga fazer isso de forma inata e há quem tenha de as desenvolver, mas acho que os portugueses e os latinos, têm uma capacidade natural para explorar essa componente.
Costuma-se dizer que os 50 são os novos 40, e os 40 os novos 30? É mesmo assim ou é mais uma técnica de marketing para convencer alguns homens da longevidade?
O tema da idade é sempre um tema interessante. O que acredito mesmo, é que a idade nos traz experiência e calma. Calma no sentido de tomar decisões e de colocar os problemas em perspetiva. Aquilo que para mim eram problemas enormes quando tinha 30 anos, hoje são matérias que facilmente encontramos solução, com a tal calma e experiência. O mais importante é vivermos e aproveitarmos o melhor da vida. Algo que a idade me trouxe foi o sentido de família e a importância de educar os nossos filhos e isso dá-nos não só uma experiência única como também um charme inigualável.
Achas que é mais fácil ser homem atualmente ou era-o no tempo dos nossos pais e avós?
Depende da perspetiva. Se pensarmos naquilo que era expectável nos tempos passados em termos de trabalho, vida social e família, penso que era mais fácil, ou melhor, a palavra correta seria: "mais simples” porque havia uma clara divisão de géneros, de tarefas e de expectativas. Hoje com as questões, que eu concordo e subscrevo, relacionadas com a igualdade de géneros, com a divisão de tarefas, o papel dos homens e das mulheres é mais complexo. Temos de ser os melhores no nosso trabalho, temos de ser pais, temos de educar os nossos filhos e participar no dia-a-dia da família de forma igual, temos de continuar a ser fanáticos de desporto e de ir beber copos com os amigos, temos de ser crianças e de ter atitudes parvas (de vez em quando) ou seja, temos uma multiplicidade de papéis que os nossos pais e os nossos avós, não tinham.
E ser mulher? É hoje mais fácil ou não?
Não, de todo. As mulheres têm o mesmo tipo de desafios que nós, com a dificuldade acrescida de vivermos ainda numa sociedade muito sexista em alguns sectores de atividade.
Andas sempre atrás de tendências. Há alguma coisa que estejas a notar junto dos homens que esteja a surgir? De moda, de estilo de vida?
Uma tendência que tenho visto crescer é uma maior humanização, uma troca do digital pela vida real e isso é fantástico. As pessoas estão cansadas de atualizarem feeds, de fazerem check-ins, de partilharem tudo e mais um par de botas. E essa é uma excelente tendência, que nos enriquece e nos devolve às origens, às conversas de amigos, às tertúlias, aos momentos que recordamos.
"Uma tendência que tenho vindo a acompanhar e a ver crescer é a passagem para redes fechadas, com maior privacidade, o que no limite, poderá “matar” a ideia base das redes sociais. É um processo evolutivo, e iremos certamente encontrar um ponto de equilíbrio".
Como as redes sociais nas relações humanas. Do Hi5 para o MySpace, para o Facebook, Twitter, Instagram, Snapchat. Vamos continuar a curvar-nos para olhar para o retângulo que temos na mão?
Nada irá mudar a autenticidade e o sentimento que é estarmos com alguém de verdade. As redes sociais vieram amplificar e de alguma forma banalizar estes momentos, mas nunca os irão substituir. E sinceramente aquilo que sinto de uma forma generalizada é um cansaço relativo às redes sociais. O facebook, apesar de continuar a ser a maior rede social do mundo, está a perder tração e interesse, e as outras redes, nomeadamente o Instagram, pela sua necessidade de faturar e de colocar publicações pagas (patrocinadas) no meio do nosso feed, está a ir pelo mesmo caminho. Uma tendência que tenho vindo a acompanhar e a ver crescer é a passagem para redes fechadas, com maior privacidade, o que no limite, poderá “matar” a ideia base das redes sociais. É um processo evolutivo, e iremos certamente encontrar um ponto de equilíbrio.
És presidente da APPM e responsável pela Comunicação da Região Sul da marca Monster Energy. Ou seja, estás sempre a viajar em trabalho. Como é consegues conjugar com a vida familiar, uma vez que tens três filhos?
É um tema delicado mas com planeamento conseguimos superar estas dificuldades relacionadas com as viagens. Tento estar o máximo que consigo com a minha família, e quando não consigo estar durante os fins-de-semana que coincidem com eventos da Monster Energy, alteramos a dinâmica e transportamos os fins-de-semana para durante a semana, o que tem inúmeras vantagens.
Que valores gostas de passar aos teus filhos?
Educar um filho é a tarefa mais difícil do mundo, mas acredito que os nossos filhos são e serão um espelho nosso, por isso temos de nos esforçar para sermos melhores pessoas, para que olhem para nós e retirem os melhores exemplos de nós. Há valores e temas que estão sempre no nosso dia-a-dia familiar: Amor, Honestidade, Justiça, Verdade, Cultura, Diversão e Criatividade. São valores e temas dos quais não abro mão e, quer eu quer a minha mulher, tentamos ser a estrela polar dos nossos filhos no que a estes valores diz respeito.
Assustas-te envelhecer?
Não. Assusta-me perder quem mais gosto e assustam-me as doenças.
Qual o próximo projeto na calha (profissional, artístico, etc)?
Gostava de poder retomar o meu projeto artístico. Quero voltar a pintar e fazê-lo idealmente com os meus filhos, e sei que tenho de ser muito organizado para isto acontecer.
Tens uma Vespa 50cc, clássica. Conta-nos um pouco a história dessa mota e o uso que faças dela?
É uma 50 sprint de 1972, chamo-lhe “Naranjita” pela sua cor laranja. Foi totalmente restaurada, e é como um quarto filho. Ou seja, sendo uma mota totalmente mecânica sem qualquer eletrónica, é temperamental, muda com a temperatura, com a meteorologia, exatamente como nós ou como as crianças. É uma mota temperamental e que exige experiência, calma e paciência, ideal para quem tem 40 anos como eu.
BI:
Idade – 40
Naturalidade – Setúbal
Clube – Vitória Futebol Clube
Desportos preferidos – Futebol, Surf, Skate, Snowboard
Filme de eleição – Underground – Emir Kusturika
A música que nunca farta – Can’t Help it / Michael Jackson remixed by Todd Terje
Prato preferido – Almôndegas com molho de limão e puré de batata (feitas pela minha mãe)
Bebida preferida – Água
Top 3 da tua Bucket List –
- Fazer a Route 66
- Ser Presidente do Vitória Futebol Clube e torná-lo Campeão nacional
- Dar uma volta ao Mundo com a minha mulher e os meus filhos