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Like A Man

19 de Abril, 2017

Ranking da felicidade à portuguesa

João NC

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Hoje, ao ver este vídeo, dei por mim a pensar nesta coisa da felicidade. Será realmente assim um sentimento tão (aparentemente) simples, quase de auto convencimento de que naquele preciso momento tudo está como deveria estar? Talvez, sim. Sobretudo por estar ligado à teoria - que defendo há anos - que estabelece uma ligação directa entre o nosso grau de satisfação com a vida que vivemos e as expectativas que nós próprios criamos para a mesma.

 

Acredito que as expectativas serão o pior inimigo da felicidade e, em consequência disso, serão também o nosso pior inimigo. Mesmo quando não o percebemos. Sobretudo quando não o percebemos! Porque não tendo essa consciência não o podemos mudar.

 

Afinal, sempre que achamos que merecemos mais, nunca vamos estar satisfeitos com o que temos. Por acharmos que a vida não pode ser só “isto” nunca estaremos em paz – e felizes – com o que já alcançámos. Resultado: vamo-nos habituando a viver no futuro, no que há-de vir, ao invés de nos ocuparmos a aproveitar o presente e o muito que já alcançámos. E às vezes temos tanto e queixamo-nos por tão pouco.

 

A verdade é que nos habituámos a exigir demais, mesmo quando não estamos disponíveis para dar em igual medida. Estudamos um bocadinho e achamos que merecemos um 20. Trabalhamos apenas o suficiente e estamos absolutamente convictos de que merecemos uma promoção e o mesmo ordenado de alguém que, esse sim, trabalha muito, tantas vezes de forma invisível ao nosso olhar inquisidor. E ai de quem diga o contrário! Somos assim, é um facto. É, se calhar, uma coisa muito portuguesa.

 

E antes que me digam (muito justamente): “Calma Gustavo Santos!”, vou deixar-vos com alguns factos para reflexão.

 

Num mundo onde parece haver estudos para tudo, claro que alguém já se debruçou sobre isto, criando até – imaginem – um ranking da felicidade. Foi no Dia Internacional da Felicidade, 20 de março, que as Nações Unidas divulgaram o “Relatório Mundial da Felicidade 2017”, em que Portugal surge na 89ª posição, num universo de 155 países. Estamos na segunda metade da tabela, portanto. Isto em futebol é mais ou menos como sermos o Arouca da felicidade. No fundo da tabela – em risco de descer de “divisão”? – está a Tanzânia, o Burundi e a República Central Africana. Para ajudar a situar, no topo estão sobretudo os países nórdicos, com Noruega, Dinamarca e Islândia a ocuparem o top 3, exactamente por esta ordem. Com entrada directa na Champions, portanto.

 

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Ora bem, brincadeiras à parte, e olhando para os factores avaliados (e que levaram a esta classificação), percebemos que os principais factores que, segundo as Nações Unidas, “sustentam” a felicidade são: cuidado, liberdade, generosidade, honestidade, saúde, orçamento e boa governança. Ao que parece, as pessoas nos países mais felizes do mundo confiam nos seus governos e empresas, vendo-se livres para tomar decisões sobre a sua vida e afirmando que têm um bom apoio social.

 

Neste contexto será um pouco mais fácil percebermos por que razão aparecemos em 89º lugar, certo? “A culpa é do Estado. Simples!” De novo, a desresponsabilização tipicamente portuguesa. Sou um patriota fervoroso, atenção! Mas isso não me impede de ver o que se passa de errado connosco. Pudesse Portugal inteiro estar deitado na cadeira do psicólogo, estou certo que este passaria um mau bocado a tentar mudar a mentalidade de um povo que – tantas vezes – não reconhece ser dono do seu próprio destino. Sim, somos trabalhadores. Provamo-lo vezes sem conta, sempre que emigramos à procura de melhores condições. Mas então o que nos falta para darmos o salto qualitativo por que parecemos ansiar?

 

Estaremos ainda a sofrer os resquícios de um passado recente onde nos habituámos a fazer o que nos mandavam, subjugados a uma ditadura que, antes de tudo o resto, nos roubava os bancos da escola e, com isso, a capacidade de pensarmos pela própria cabeça? Talvez. Mas desde aí mais de 40 anos se passaram. Quantas mais gerações teremos de ver crescer até percebermos que “o Estado” somos nós? O “destino” é nosso para mudar. Ou não. Mas não podemos depois queixar-nos, como se uma entidade superior (e sempre ausente) fosse responsável por tudo aquilo que de mau nos acontece. Não! Deixemo-nos de desculpas, de viver num eterno futuro onde merecemos tudo e nada nos chega. A verdade é que não somos piores do que os alemães, os dinamarqueses ou até que os islandeses. Que diabo, os invernos destes últimos só têm cinco horas de sol por dia e mesmo assim eles conseguem ser mais felizes do que nós?!

 

Deixemos o despotismo mental no passado, no mesmo sítio onde podemos abandonar as desculpas de sempre, e olhemos para o presente com a certeza de que comandamos o nosso próprio destino.

E, aqui sim, citando o sempre genial Gustavo Santos, termino dizendo: “Quando queremos muito uma coisa e temos a coragem no sangue, o mundo inteiro pode cair que nós mantemo-nos de pé”.