22 de Novembro, 2016
Preparar os (nossos) filhos para a vida
LiAM
Nunca mais me esqueço de uma entrevista que fiz a um arquiteto em 2009. Esse arquiteto tinha vivido fora do país, num país do norte da Europa e era, penso que ainda o seja, uma daquelas pessoas com mundo, culta e muito interessante.Depois da entrevista ter terminado, em jeito de conversa, partilhei a minha própria experiência de ter vivido, igualmente, num país do norte da Europa. Falámos das diferenças da sociedade e chegámos à parte em que comentámos a forma como se educam as crianças por lá – tinha acabado, eu próprio, de ser pai pela primeira vez.Falei da forma como os adolescentes do norte da Europa trabalhavam desde muito cedo mesmo enquanto estudavam e como a sociedade os incentivava a tal. Em cafés, em bares, em supermercados, etc. É ali que aqueles jovens ganham o tal “pocket money”, o dinheiro para as viagens, para as sapatilhas de marca que querem ou mesmo para levar a namorada a jantar e sobretudo para puderem, desde cedo, gerirem o seu dinheiro.O meu espanto aconteceu quando o arquitecto, na altura na casa dos 38/40 me disse que os filhos dele nunca iriam trabalhar antes de acabarem os estudos. Só mesmo por necessidade. Fiquei quase boquiaberto. Aliás, tive de disfarçar o meu espanto. Depois da conversa toda à volta de sociedades mais avançadas, das riquezas de conhecer outras culturas, de coisas boas e más, comparativamente com a sociedade portuguesa da altura ele disse-me que irá fazer o que a maioria dos pais – de classe média – já tinham feito uma geração anterior e tirar o “fardo” do trabalho aos filhos até saírem da universidade.Ainda hoje faz-me muita confusão este tipo de pensamento. Como é que ainda existem pais, já viajados, com cultura e acesso a muita informação a pensarem assim? E já não falo do tal arquiteto que, se calhar até já mudou de ideias, mas pelo que sei, pelo que vejo a maioria dos pais (mais ou menos jovens) preparam-se para sustentar os filhos até eles terem um emprego. Atenção não escrevi “trabalho” de propósito.Quando temos filhos em casa temos uma enorme responsabilidade. São seres que vão ter de enfrentar o mundo, não pediram para nascer, temos de os “guiar” com muito cuidado e preparação. São seres individuais que vão criar os seus gostos e preferências, e não podem apenas fazer aquilo que os pais quiseram, e não conseguiram enquanto jovens fazer.Mas, uma das coisas em que lhes devemos orientar é saber como ganhar e gerir dinheiro. E ainda mostrar-lhes, de forma instrutiva, o quanto custa ganhar no dia-a-dia e o quanto custa ser responsável. Acredito que se isso for incutido desde a adolescência os fará seres mais preparados para o que aí vem. Podem trabalhar apenas umas horas, ou aos fins-de-semana, mas o facto de saírem do casulo e terem responsabilidade é deveras importante. Fará deles uns homens (ou mulheres) com ferramentas para o futuro, que, como todos sabemos, de fácil não tem nada.Isto tudo para vos escrever que o fato de ser pai (e homem) é fantástico e que temos um papel importante em guiarmos os nossos filhos para o futuro - teoricamente todos sabemos isso.Enquanto estava a pensar neste texto, dei com uma entrevista de David Beckham a um programa de TV em que ele fala sobre o mesmo assunto. Ora vejam (sobretudo até ao minuto 1:18 – depois a conversa vai noutra direção):[youtube https://www.youtube.com/watch?v=l_0KtxzKZMw]Faz-nos pensar, não?