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Like A Man

27 de Fevereiro, 2017

Porque devemos manter o ritual de ir ao barbeiro?

Filipe Gil

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Ir ao barbeiro devia voltar a ser como era em outros tempos!!! Não me levem a mal pelo saudosismo, mas pela nossa “santa” masculinidade, temos de voltar para lá!Temos tido uns revivalismos nos últimos tempos, com o ressurgimento de vários negócios ligados a barbearias mais tradicionais que levaram um twist, na sua maioria por hipsters empreendedores.Mas este post não é para falar de negócios nem de startups ligadas ao corte de barba e cabelo inspiradas pelo último Web Summit. Trata-se simplesmente de falar do gosto, do prazer e do “dever” de irmos ao barbeiro e de o passar às gerações futuras.

Sou do tempo – prometi a mim mesmo que nunca começaria uma frase assim – em que o meu pai ou os meus tios me levavam ao barbeiro. De início não percebia tal excitação da parte deles. Mas hoje em dia dou por mim a sorrir ao lembrar-me desses momentos.E como eles sabiam que era importante ter um local só nosso, de homens, onde se falava de política, e onde se liam e comentavam os jornais desportivos ao pormenor com alguém com a mesma dedicação pelo desporto rei. E sim, também se falava de mulheres. Não das nossas nem das dos homens presentes, mas das outras, as que víamos na rua, nos cinemas...Mas o que se passou então para se perder essa vontade de ter o nosso momento próprio, homens? É uma análise que tem de ser feita!

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Por um lado os novos afazeres domésticos tirara-nos o tempo para fazer certas coisas. É bom e salutar, porque homem que é homem tanto aspira o chão da sala, como limpa o rabo do filho no WC, ou está a planear a despedida de solteiro do amigo que finalmente casou aos 50.Mas para além disso, passaram-se outras coisas importantes. A começar pelo surgimento dos hair stylish studios whatever que pulularam nos locais mais trendy das cidades portuguesas. E não, não comento os que abriram nos centros comerciais da periferia com nomes francófonos que isso é outra coisa. Mas mesmo outra coisa…



E como de um momento para o outro deixou de ser mal visto ir a um hair studio, cortar o cabelo com uma ou um hair stylist que variava de preço consoante a experiência do mesmo, lá fomos, armados em felizes trendy wendys.Para além disso achámos, alguns de nós, que dividir o espaço com mulheres era positivo, era uma tentativa de olhar para mulheres bonitas e quem sabe travar conhecimento com elas e ainda ter o bónus de tentar saber alguns dos seus segredos…pelo menos aqueles que o barulho dos secadores deixavam. Errado!Durante uns tempos foi fashion ir àquele local onde as senhoras e senhores nos tratavam por “tu” e tinham cabelos roxos e madeixas dignas do bairro londrino de Camden Town.



Mas como as mulheres na maioria das vezes agem e nós homens apenas reagimos, começaram elas a contornar a situação e a voltar a ter os seus espaços próprios. E fizeram muito bem!E nós, ficámos ali no limbo, à espera que alguém nos dissesse o que fazer.Se ela nos elogiavam o cabelo cortado no hair stylish do Bairro Alto como é que voltamos ao barbeiro do bairro que usava restaurador Olex e cheirava a lavanda - na melhor das hipóteses?Ficámos com medo de ser retrógrados! Mas, por outro lado queríamos tanto voltar a ter conversas de homem...Tanto falar sem tabus, tanto falar naquele jogador holandês que falhou um penalti na final da Taça das Taças de 1973…Ficávamos a pensar no dia em que passaríamos o testemunho aos nossos filhos homens para ocupar a mesma cadeira onde os nossos pais e avôs já tinham passado horas sentados. Ninguém pensa em passar um testemunho no hair style studio fashion, pois não?

Por isso toca a voltar às barbearias, mas atenção, de um momento para o outro surgiram três tipos de barbeiros que têm evitar:

  1. Aquelas barbearias retro que se não tivermos pelo menos um braço completamente tatuado acham que somos betinhos da Golegã e nos tratam mal. Só fazem o que querem e só cortem como querem.

  2. Pequenas barbearias de bairro tomadas por profissionais que tiraram o curso por correspondência e vos fazem cortes de cabelo à Cristiano Ronaldo (sou fã do futebolista, mas aqueles cortes de cabelo... não aprendes nada com o Beckham, CR7, não?)

  3. As barbearias com barbeiros tão velhos, mas tão velhos que as mãos dos senhores são tão hirtes como gelatinas e onde pomos a nossa vida em risco. Sejam corajosos mas não estúpidos.

  4. É o nosso antigo barbeiro se estiver ressabiado. Nota-se logo pelo sorriso que faze: “Voltaste ao fim destes anos todos? Foi? Agora levas um corte à tigela que não me esqueces nos próximos dois meses”!

Por isso, homens a sério, voltem aos barbeiros e as barbearias! Aos bons, com experiência (mesmo que sejam tipos novos), com serviço a cliente de excelência com saber, que falem e vos deixem falar, que seja um bom porto seguro e que passem lá bons momentos.Um local onde tenham orgulho de levar os vossos filhos, sobrinhos, amigos dos filhos. Voltem aos vossos lugares. Sejam LIKE A MAN!