Paris não deixa de surpreender
Paris. Sempre teremos Paris, diz o filme. Nos últimos dias, com o incêndio da Igreja de Notre Dame, percebemos que, se calhar, nem tudo o que parece garantido, é. Por momentos, pensei que íamos perder um dos símbolos mais icónicos daquela cidade. E por segundos, dei por mim a pensar que da última vez que fui a Paris, em setembro, foi com desdém que não visitei aquela igreja.
Aliás, já em janeiro lá tinha estado com um grupo de colegas. E enquanto eles foram visitar a Igreja - que já conhecia de uma visita há uns 20 anos atrás - fui comer um crepe com sumo de limão e açúcar. Achei que, afinal, podemos não ter sempre Paris. A cidade é que nos pode ter, de quando em vez.
Ao mesmo tempo, coincidentemente ou não, segui uma sugestão de um influencer da nossa praça e vi a série de "Huge, in France", que conta as peripécias da estrela comediante fraco-marroquina Gad Elmaleh em Nova Iorque. E nos episódios vemos - pelo menos, eu vi - como Paris nos é familiar. É-me familiar.
E por isso ficamos aterrorizados com as chamas a devorarem Notre Dame. Talvez em demasia, porque para outras catástrofes - algumas que envolvem muitas vidas humanas - somos mais frios e distantes. Talvez por isso tudo e até mais, já cantava Amália Rodrigues : "Lisboa não sejas francesa".
Mas, o mais interessante é que Paris é sempre diferente. Já visitei a capital francesa mais de 10 vezes, algumas em lazer, a maioria das vezes em trabalho - mas com tempo para a visitar. Do lado esquerdo ao direito do Sena. Dos bairros mais visitados. Há sempre algo novo. Lembro-me que há cerca de dois anos visitei o bairro do Marais pela primeira vez. Como é possível, só à 9º vez que lá ponho os pés é que passeio por ali? É possível sim, Paris tem muito para ver.
Da última vez, fiquei na zona de Montmatre. E foi novamente interessante. Já lá tinha estado como turista um par de vezes. Mas foi só desta, com três dias por ali, que vi mais coisas novas. Os jovens que abundam por aquele bairro do Pigale. Os bares com gente cá fora e que rivalizam com o que vemos e vivemos no Cais do Sodré e Bairro Alto. Os parques onde os parienses correm de manhã.
Também nessa viagem aproveitei e conheci a zona perto do Canal de St Michel - quase que parece um pouco de Amesterdão ali no meio. Aquela zona é fascinante. É uma pequena vila com identidade própria. Numa só viagem fiquei a conhecer dois locais novos de Paris. Isto, como já escrevi, mais de dez vezes depois de visitar a capital francesa.
Ainda me lembro quando, com desdém, sabia que tinha de ir a Paris em trabalho, ficar lá uns três dias. E pensar: "outra vez, Paris, que grande seca!"
Mentira. Mal posso esperar para voltar lá e conhecer ainda melhor aquela que, a seguir a Amesterdão e Lisboa, é a minha cidade preferida e aquela que mais tem a ver comigo. C'esta ça!