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Like A Man

25 de Dezembro, 2019

Os preconceitos da alta fidelidade e a possibilidade de nos surpreendermos

LiAM

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A minha aventura no incrível mundo da alta fidelidade começa com os transístores japoneses, um integrado e um leitor de cd Technics, comprados numa pequena loja nas Portas de Santo Antão. Um texto do LiAM's Friend, Fernando Marques. 

Assim começou a minha busca do “santo graal” do áudio, com a inevitável passagem pela experiência do “som” inglês, referência incontornável nas décadas de 1980 e 90. Influenciado pelo que ia lendo nas revistas da especialidade lá comprei um Nad 3025i e umas colunas Monitor Audio 7 na loja Farol, que ficava no Chiado, muito perto de minha casa. Na altura, era frequente visitar essas lojas para estar a par das novidades – e ouvi-las sempre que possível.

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Claro que não se pode falar de alta fidelidade em Portugal sem mencionar a Transom, onde conheci o Carlos Moreira, alguém que consegue sempre surpreender com a sua sensibilidade para escolher e “casar” componentes. Lembro-me bem de o Carlos me mostrar os pequenos amplificadores da Clones Audio, aquando da sua passagem pela Absolut Sound & Vision, entusiasmado com a descoberta do pequeno fabricante de Hong Kong. Passados alguns anos, é com o mesmo entusiasmo que volto a encontrá-lo no seu atual projeto, My HiFi House. Mais uma vez, graças à sua larga experiência na área, mas acima de tudo ao seu gosto pela música, podemos ouvir um leque de componentes fora do circuito mainstream escolhidos “a dedo”.

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Na última visita que fiz à sua loja, Carlos Moreira não me deixou sair sem ouvir um sistema que estava no novo espaço, a extensão da My Hifi House. “Tem de ir ouvir o que temos montado nas outras instalações”, dizia-me a propósito da minha recente deambulação à volta de colunas “single driver full range”. O que lá estava era um amplificador a válvulas Egg-Shell Prestige, de origem polaca, com apenas 18 watt por canal e um design tão surpreendente quanto o som que produz. Estava ligado a umas colunas Audio Epilog Prime de duas vias com uma sensibilidade de 99db/1m, que significa que podem ser amplificadas com uns meros 3 watt.

É um par de colunas imponente: são feitas à mão por Dean Ledenac, engenheiro croata que também é músico e medem 1,20m de altura por 37cm de largura e profundidade, e precisam de uma sala grande para brilharem, convenientemente afastadas da parede.

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Cumpridos estes requisitos somos recompensados com um som de uma naturalidade incrível, mas que não deverá ser confundida com “quente” ou “relaxado”, típico da amplificação a válvulas. Quem disse que amplificadores a válvulas não servem para ouvir rock? Servem, sim senhor. Desde que bem escolhidos e melhor combinados com as colunas adequadas.

 

A excecional qualidade sonora do conjunto em causa era de certo modo expectável, tendo em conta o valor dos componentes, cerca de cinco mil euros cada – ainda que o preço não seja sinónimo de qualidade. O que me leva à grande surpresa que tive em muito tempo. Um pequeno sistema completamente insuspeito, montado numa sala também ela pequena, adequada às dimensões das colunas Dali Spector 2, ligadas a um amplificador Cambridge AXA 35, que por 349 euros oferece amplificação classe A/B, comando remoto, e um andar de phono MM.

As colunas custam 259 euros e a minha pergunta, assim que as ouvi tocar, foi: “Onde está o subwoofer?”. Parece impossível o tamanho do som que sai de umas colunas tão pequenas. E a qualidade que tem, com um detalhe incrível nas gamas média e alta, e um grave controlado, mas com uma extensão muito para lá do que parece ser fisicamente possível em tão diminuto tamanho.

Se quiser juntar uma fonte, o leitor de cd Cambridge AXC custa 249 euros, e por menos de mil euros fica com um sistema que compete com muita coisa num patamar de preço bem mais elevado.

Com a deslocação da produção da maioria das marcas para solo asiático, muitos audiófilos passaram a procurar produtos cuja produção não fosse em massa. Eu incluído.

O “som” que agora muito se procura, já não é o “tipicamente inglês”, “redondo, quente, ou lá o que isso possa querer dizer”. A matriz do “som audiófilo” até pode ter sido britânica mas já há muitos anos que é global, e para isso há uma extensa oferta, para todos os gostos, vinda de países como a Polónia, Croácia, Sérvia, Dinamarca, entre muitos outros.

O conjunto do amplificador Cambridge AXA 35 e colunas Dali Spector 2 lembra-me muito o NAD 3025i e as Monitor Audio 7 que tive nos anos 90: por um preço modesto proporcionaram-me muitas horas de música com qualidade. Se, por um lado, a produção em massa pode descaracterizar o produto, e piorar a qualidade, paradoxalmente é por causa dela que podemos ter excelentes produtos, por valores muito competitivos. Se pretende montar um sistema de som, independentemente, do orçamento que dispõe, não perca mais tempo, faça uma visita à My Hifi House e deixe-se surpreender.

 

Referências que devem ter em conta: