O que podemos aprender com os nossos cães?
Naquela lógica de “dog people” ou “cat people” sou, claramente, dos primeiros. Talvez por ter sido, durante grande parte da minha vida, alérgico aos felinos, nunca fui capaz de confiar a 100% num gato. Aquele olhar sempre difícil de decifrar, que tanto pode querer dizer que somos a pessoa mais importante do mundo como pode indiciar que vão esperar que adormeçamos no sofá para nos assassinar ali mesmo, sempre me fez alguma confusão.
Ainda assim, nos últimos anos tenho conseguido ultrapassar a questão e já me consigo divertir com os gatos de algumas amigas. Esta é, de resto, outra questão. Se o gato parece ser um animal de estimação que agrada mais ao universo feminino, o cão é mais democrático. É para o menino e para a menina. E aqui o menino gosta mesmo é de cães. Que seres deliciosamente patetas e divertidos são os cães! E felizes. Um cão equilibrado e bem cuidado não esconde - porque simplesmente não consegue - a sua felicidade. Ir à rua? Uma alegria! Cruzar-se com uma pessoa que nunca viram na vida? Uma festa! O dono a chegar a casa no final do dia? É o fim do mundo em lambidelas!
Se há seres que encarnam a definição de amor incondicional, são mesmo os cães. Reparem que o único propósito da vida de um cão é agradar o seu dono. Na sua essência, os cães são alegria no seu estado mais puro. Talvez por isso, dei por mim a pensar sobre tudo aquilo que podemos aprender com eles; o que podem os cães ensinar-nos sobre a vida, numa lógica de sermos - também nós - estupidamente felizes? Aqui ficam algumas:
1. Os cães só sabem viver no presente. E nesse presente tudo é espectacular. Os cheiros, as pessoas, a areia da praia, a relva do jardim, enfim, até a sua própria cauda serve para largos minutos de diversão. Os cães não vivem presos no passado nem preocupados com o amanhã. Para eles a vida é uma constante descoberta, e essa capacidade de nos encantarmos com as pequenas coisas do dia-a-dia é absolutamente maravilhosa. Sobretudo aquele exercício que eles tanto apreciam, de colocar a cabeça fora da janela do carro, de orelhas ao vento e língua de fora, como se quisessem provar o mundo. Já fizeram isso hoje?
2. Os cães não guardam rancor. Saber perdoar e seguir em frente sem ressentimentos é outras das características que podíamos importar do universo canino. Se agora nos zangamos com eles e lhes damos uma palmada mais forte, daqui a pouco já estão junto a nós como se nada fosse, sempre com aquele ar que nos faz sentir a pessoa mais importante do mundo. E somos. Para eles somos mesmo. Claro que isto nem sempre funciona bem para o lado dos cães, mas por culpa nossa. Quando têm o azar de ter um dono irresponsável e/ou abusivo, os cães mantêm este espírito para com alguém que claramente não merece. Mas é a sua natureza, e ainda bem. A (grande) maioria de nós agradece essa lealdade - outra das lições que podíamos aprendemos com eles.
3. Os cães são genuínos. Sempre. Gostando ou não de nós, um cão vai sempre mostrar-nos isso. Eles não “mentem” e, acima de tudo, não escondem as suas emoções. São o que são, sem filtros. E não têm receio de mostrar os seus sentimentos, mesmo quando isso passa por quererem “possuir” uma das nossas pernas. Precisávamos de ser mais assim, também. A parte da perna seria opcional, claro.
4. Os cães não descriminam. Um cão não quer saber se somos brancos, pretos, amarelos ou às bolinhas. Ele não quer saber se somos ricos, pobres ou se somos o Cristiano Ronaldo. Um cão vê-nos pela energia que emanamos e pelo carinho que lhes damos. E responde em igual medida. Reparem que se há uma hierarquia no mundo dos cães, é baseada na energia. Uma matilha junta-se quando estão todos dentro da mesma energia, e não porque um cão quer que o outro lhe arranje um emprego ou uma cadela para passar um bom bocado. E quando nos dão alguma coisa (e dão tanto), fazem-no sem esperar nada em troca. Esse altruísmo aliado à simplicidade e à justiça entre pares seria sempre algo bom de termos entre humanos.
5. Os cães confiam no seu instinto. Sendo um animal muito inteligente, um cão não pensa demais. Nem de menos. Na verdade ele não pensa – não da mesma forma que nós. Acima de tudo, ele sente e confia no instinto. Aprendamos isso com eles. Já a parte de andarem sempre a cheirar certas partes da anatomia do outros da sua espécie, podemos deixar no universo canino.