O livro que gostávamos que nunca acabasse
O cancro não é uma merda. É uma grande merda! Um ceifador de vidas, um inimigo que se bate sem mostrar a cara e que “joga” nos bastidores. E, quando lhe convém, ataca sem perdão. É mesmo, mesmo uma valente merda.
E foi, no mínimo, com esta sensação que fiquei depois de ler o livro recém-publicado “Não Respire” do jornalista Pedro Rolo Duarte, que morreu no final de novembro de 2017. De cancro.
Já aqui tinha admitido a minha admiração pelo jornalista. E com curiosidade peguei no livro que vi sozinho numa mesa da redação. Um livro que é uma conversa de amigos, na qual o jornalista nos conta coisas que, durante uma vida, apenas a alguns amigos confidenciamos.
E tal como na vida - exactamente como aconteceu na vida real - quando nos estamos a aproximar, a sentirmo-nos mais próximos das ideias, dos gostos, da vida de Pedro Rolo Duarte, o livro acaba (e com ele a vida do Pedro). E é um murro no estômago. Já sabíamos que ia ser assim, mas custa. É difícil. É como a morte dos avós. Sabemos que um dia vai acontecer. A sua condição de idosos é, em criança, o mais próximo relacionamento que temos com a morte. Vivemos com isso, mas quando chega o dia fatídico o mundo desaba como se fosse uma surpresa.
Ora, voltando ao livro, nele Pedro conta-nos alguns episódios que viveu no jornalismo, na vida e fala-nos com o carinho natural de um pai orgulhoso do seu filho, do António Maria. Acredito que a relação dos dois tenha sido assim mesmo como ele nos conta. E é inspirador – pelo menos para quem é pai ou pretende ser.
Por isso acho que é um livro que todos os homens (e mulheres), pais ou não, deviam ler. Há ali uma lição de vida. Um gosto pelas pequenas coisas e uma sagaz transparência por coisas que às vezes não correm tão bem. Como na vida real. E, confesso que, quando virei a última página, fiquei triste, pasmado até, e só me apeteceu abraçar os meus filhos.
Sabemos de antemão que aquelas são mesmo as últimas linhas que lemos do Pedro Rolo Duarte. E por isso quando chegamos ao fim gostaríamos que o fim não fosse mesmo o final. Uma merda, repito.