Lençol dos dias
Quero partilhar uma teoria convosco. Uma reflexão, digamos.
Imaginem comigo: um casal - que partilha a mesma cama - tenta tocar-se, mas tem um lençol a separá-los. Sentem o corpo do outro, mas o lençol pelo meio inibe o toque pele com pele. Será uma sensação de quase-toque. Sentem-se as formas mas não a textura da pele do outro.
Tenho para mim que é assim que muitos casais que nos rodeiam vivem as suas vidas. Numa ilusão de intimidade, de “toque de pele”, que não passa de uma sensação de quase-toque. O “lençol” da vida destes casais pode ser a ausência de diálogo, a falta de intimidade, a divergência nos valores com que regem as suas vidas ou até a mentira. Também os filhos e os afazeres profissionais, muitas vezes, assumem o papel deste “lençol” que nos afasta do outro.
Estamos fisicamente próximos, partilhamos rotinas, conversas de circunstância, mas a intimidade perde-se nesta “cama” da vida em comum. Uma cama que pode ter lençóis de seda, de algodão ou de flanela, em função do afastamento que se cria entre o casal. Há até quem tenha lençóis de forro polar, meus amigos.
Se o verão é propício para atirar com os lençóis para os pés da cama, aproveitemos para tocar a pele do outro. Baixem-se as barreiras e solte-se a intimidade. Sem filtros nem barreiras. Afinal, o mundo precisa de mais relações saudáveis. A humanidade agradece.