Isto somos (mesmo) nós.
Já aqui falei de séries e da minha relação com elas. Depois de alguns anos afastado dos ecrãs de televisão no que a este tipo de formato diz respeito, voltei a aproximar-me graças ao Netflix. Agora, também a FOX está a dar uma ajuda com a muito competente “This is us". E competente é o mínimo que se pode dizer da série do momento.
Diria mesmo, e contrariando o mito que defende que os homens têm a sensibilidade de uma bota da tropa, que é de uma simplicidade tocante. É impossível ficar indiferente à qualidade da narrativa e, sobretudo, à actualidade do tema. Tema que é tudo e não é nada. E será talvez esse o grande trunfo de “This is us”: a simplicidade quotidiana que nos toca a todos. É fácil - muito fácil - relacionarmo-nos com aquela história, ou pedaços dela. Porque já passámos por aquilo, porque temos amigos que são exactamente assim, ou simplesmente porque somos de carne e osso e não temos como não nos relacionar com uma história que faz dos sentimentos (e das pessoas que os envolvem) o tema principal.
Um dos pontos fortes da série é quanto a mim - e daí também esta crónica - a figura masculina de Jack, o patriarca desta família que se vai revelando aos poucos. Ele, o pai, é um homem como todos devíamos ser: trabalhador, bem-disposto, emotivo e, acima de tudo, muito sensível aos valores familiares. Diria até que é a “cola” que mantém esta família unida. Quem acompanha a série sabe que a história ainda está longe de estar contada e ainda não sabemos todo o alcance deste personagem, mas a verdade é que sem ele, a família parece ter-se tornado disfuncional (para quem não acompanha: a história vai sendo desvendada aos poucos, alternando entre o presente e o passado).
Este é, de resto, um aspecto curioso da narrativa (e até cultural), já que este papel de “agregador familiar” é tipicamente atribuído à mãe de família, normalmente responsável por manter toda a família “nos eixos”, não apenas nas tarefas diárias, mas até emocionalmente. Será um sinal dos tempos ou uma tentativa de inverter a lógica familiar?
Fica a dúvida, mas também uma certeza: “This is us" é um belíssimo relato das dinâmicas de uma família contemporânea, com muitos aspectos disfuncionais, é certo, mas com muitos outros que nos fazem pensar nas nossas próprias famílias. E num panorama audiovisual carregado de efeitos especiais e de ficção mais ou menos científica, é reconfortante perceber que ainda há espaço para os sentimentos.