Conversa de homens: Como é ser pai de quatro?!
Inauguramos hoje uma nova rubrica no blogue: "Conversas de Homens" - entrevistas a homens que de alguma forma se destacam, quer pela sua profissão, vida familiar, conquistas profissionais, estilo, desporto, entre outros assuntos.Homens que podem ser menos ou mais conhecidos mas que são bons exemplos de especimens masculinos e exemplos a seguir.
E começamos estas conversas com o Rui Alves Pinto. Quem quiser conhecer melhor a história do Rui pode ler este artigo publicado há umas semanas no Diário de Notícias. Resumindo, o Rui é pai de quatro. Três de "coração" e um biológico. O Rui conheceu a sua mulher e casou com ela e com os três filhos dela. Algo que não está ao alcance de todos, algo que muitos homens não teriam a coragem de se aventurar, mas que o Rui, com o seu enorme coração e coragem dá conta do recado como poucos.Por isso, e por outras razões que vão perceber mais adiante, o Rui é um homem especial. É "um homem à homem", à séria! Para além disso, e apesar de ter todas as desculpas para o fazer (quatro filhos!!!), não descura o seu estilo e no gosto que tem pelas coisas boas da vida: de uma boa conversa, de um bom gin, de apanhar ondas, do gosto pelas motas e por correr no meio da natureza. Vale a pena ler as linhas seguintes:
Quando foste viver com a tua mulher (Marta) o que disseram os teus amigos?Os meus amigos disseram que eu era maluco! (risos!) Disseram que eu devia era aproveitar para ter tempo para ir beber uns copos, ir apanhar ondas, sem tempo para voltar para casa ou ter de ir ao supermercado todos os dias!
E os teus pais?
Os meus pai foram mais contidos. Pelo menos, externamente! Disseram que se tinha pensado no assunto e se era essa a minha decisão que eles a aceitariam naturalmente. E que estavam muito curiosos para conhecerem os miúdos. Devo dizer, para início de conversa, que não me arrependo, nem por um minuto, da vida que escolhi. Não me imagino a ter outra vida diferente daquela que tenho, hoje em dia. Até me parece quase inconcebível, como já tive uma outra vida, em que vivia sozinho, sem filhos, sem a desarrumação da sala ou a algazarra constante deles! Parece-me mesmo uma outra vida!
Qual foi o teu maior receio nessa altura?
O meu maior receio foi o da não aceitação, por parte dos miúdos, da minha presença – na vida da sua mãe e nas suas vidas. Mas, devo dizer, foi uma coisa muito passageira, uma vez que, desde o primeiro dia, me aceitaram lindamente. E isso foi um bocado desconcertante para mim! Outro dos receios tem a ver com o ouvir aquele fatídica frase ‘Não és meu pai, por isso, não me dizes o que fazer!’ Isso nunca aconteceu. Nunca. Confesso que, ainda hoje, por vezes, tenho receio de a ouvir. Por outro lado, me surpreende o facto que eles nunca ma tenham proferido. É que eu sou muito chato com eles! Estou sempre a mandá-los arrumar coisas e para se portarem bem à mesa ou para largarem os telemóveis e os tablets. Enfim, um verdadeiro chatarrão!
Porque decidiste tatuar as iniciais dos teus filhos de coração?
Porque eles são meus filhos. São mesmo. Amo-os do fundo do meu coração! E, no outro braço, quando o Vicente nasceu, tatuei o seu nome e data de nascimento. Só foi noutro braço, porque já não cabia na tatuagem dos manos. Desta forma, estão sempre comigo, mesmo quando estão longe. Para sempre! Sabes, quando fiz a tatuagem, eles perguntavam-me: ‘e se te separares da Mãe, como é que vais fazer com a tatuagem?’. Eu respondo-lhes sempre que isso nunca vai acontecer, mas se, por uma qualquer razão remota acontecesse, eles serão sempre os meus meninos, independentemente da Mãe. Nunca tive dúvidas em fazer esta tatuagem e era uma coisa há muito imaginada. Ficou melhor do que sonhei e estou muito orgulhoso dela. E eles também, sei-o. Por vezes, dou com eles a olharem fixamente para a tatuagem, orgulhosos. Enche-me o coração.
Que tipo de valores tentas passar aos teus filhos homens?
Em primeiro lugar, sou amigo deles. Não, em primeiro lugar, amo-os. Depois, sou educador. Só depois, sou amigo deles. Tento, tanto quanto a diferença de idades o permite. Pessoalmente, tento passar-lhe valores como liberdade, responsabilidade e, sobretudo, respeito. Respeito, em primeiro lugar, para com eles próprios, mas também para com os outros – os manos, a mãe, a família, os amigos, os professores, o planeta. Valores como a solidariedade, a amizade, ou a partilha, são importantes para mim e tento que para eles, também. O amor está fora desta lista porque é omnipresente, Sempre. Estou, portanto, sempre neste limbo entre o educador - que ralha e chateia -, e o amigo - que ri e dá carinho e beijos e abraços, muitos. Mas uma coisa que me apraz é eles sentirem a liberdade para discutirem, comigo, todos os assuntos que quiserem. E esta idade em que, para eles, somos velhos, mas em que nos sentimos, em muitas, muitas ocasiões, ainda como uns miúdos, dá-nos a premissa de não nos chocar com alguns assuntos que eles trazem para a discussão (e, muitas vezes, de nos fartaremos de rir, por dentro, com as suas maluquices e dúvidas existenciais). É bom sentir que eles confiam em nós. Sentimos que estamos a fazer um bom trabalho. É um orgulho e um quentinho bom no estômago de dever cumprido. Sinto que tenho, com eles, uma proximidade que não tive com o meu pai, a este nível. E isso é bom. Isto com os mais velhos; com o Vicente, penso que será igual. Não faço qualquer tipo de distinção entre eles. Com a Vivi é diferente: ela é a minha Princesa! (risos!)
Como foi dos a reacção dos irmão ao nascimento do Vicente?
Os miúdos ficaram completamente histéricos, quando souberam da notícia da vinda do Vicente. Desde a gravidez, e ainda sem o conhecerem, se apaixonaram pelo Vicente. Ainda ele não tinha forma, nem cara, nem nome. E isso é tão bonito! Ainda hoje, me emociono, quando os vejo com o Mano mais pequeno. O altruísmo do seu carinho e a sua alegria genuína são tão bonitos e enchem a casa. A forma como os manos grandes tratam o Vicente, como se preocupam com ele, como o protegem e querem tomar conta dele, é muito enternecedora. E ele sente-o e corresponde-lhes, à sua maneira, com o riso estampado naqueles olhos redondos enormes tão expressivos… Espero que a paixão resista quando o Vicente lhes quiser roubar o tablet e os Legos para brincar!
Numa família numerosa há momentos de grande confusão, presumo. Birras, discussões, etc. Como se gere uma situação dessas com os filhos do coração?
Eu enfureço-me muito! Por vezes, lido mal com o excesso de barulho, com a desarrumação constante da sala, com as birras constantes para não colocarem a mesa, com as desculpas esfarrapadas para não estudarem. Sim, às vezes, grito! Outras vezes, desapareço para ir correr sozinho. Nesse aspeto, a mãe é tão mais magnânima na sua sabedoria e infinita paciência! (Risos!). Mas, invariavelmente, ao final da tarde, já estou morto de saudades deles e louco para ir para casa, para junto de si. Para voltar para este caos feliz e acolhedor a que chamamos Casa. Para o meio da barulheira e da confusão. Já não conseguiria viver sem isto. Por vezes, quando eles estão fora, ao fim-de-semana, chega a ser estranho tanto silêncio; parece que falta qualquer coisa! É de loucos, eu sei! (Risos!)
Lembras-te da frase mais tocante que algum dos teus filhos te disse?
Eu digo-lhes muitas vezes que os adoro. E digo-lhos sempre, quando lhes vou dar um beijo de boas noites, já eles estão deitados na sua cama. Certa vez, disse à Vivi: ‘Adoro-te até à Lua, e volta’. Ela respondeu: ‘E eu adoro-te até ao infinito, cento e dez vezes’. Mais palavras para quê?...
Como costuma ser o Natal? Confusão organizada ou um caos sereno?
O Natal é repartido entre vários sítios. No dia 24, ficamos com os miúdos e fazemos a consoada com o meu lado da família e com a Mãe da Marta. No dia 25, os miúdos almoçam o passam o dia com o Pai e o seu lado da família. Dividimo-nos, entre várias casas, vários locais, mas alegria de estar com uns e com outros é constante. Portanto, respondendo à tua questão, penso que é mais um caos organizado, mas longe de ser sereno! Mas com muito bolo rei, alperces secos e amor! Os presentes são secundários. Pelo menos, é esse o espírito que lhes tentamos incutir: as pessoas são importantes; a família é importante; os bens materiais são secundários. No Natal, como na vida do dia-a-dia.
Para quem está a iniciar uma família (homem ou mulher) parecida com a tua quais os principais conselhos que dás?
Quem sou eu para dar conselhos! Por vezes, acho que faço tudo mal e ao contrário daquilo que deveria ser! (Risos!) O importante é as crianças se sentirem amadas! Esse é o começo e o final de tudo. A partir daí, tudo se facilita. A construção de uma relação de confiança, a cola das famílias, nasce do amor de nos une. Aparte disto, se pudesse dar um conselho (e isto é algo que tento, todos os dias, sem grande sucesso, temo!), diria para tentarem gritar o mínimo possível. E tentar ser pacientes com as desculpas; os ‘já vou’, os ‘amanhã estudo’. E dar-lhes, todos os dias, independentemente do quão atazanados estejamos com as diabruras deles, um beijo de boas noites e um carinho. Isso resolve tudo.
BI:Idade – 41 anos.
Naturalidade - Setúbal.
Clube – SLB (O maior, claro está!).
Desportos preferidos – Correr na natureza, BTT, bodyboardFilme de eleição – Qualquer um da saga Bourne. Ou qualquer um Bond, do Daniel Craig (pela simples razão que este já sangra - , portanto, é mais ‘normal’ - e leva grandes enxertos mas, no fim, todo partido, vence os maus, e ainda consegue dar uns amassos na Bond Girl que estiver ao seu alcance).
A música que nunca farta – (esta é difícil) ‘wish you were here’, dos Incubus, ou ‘the view from the afternoon’, dos Arctic Monkeys, ou ‘wet sand’, dos Red Hot Chili Peppers, são três delas. Haveriam centenas delas mais.
Prato preferido – A feijoada ou o cozido da minha mãe.
Bebida preferida – Coca-cola (guilty pleasure, que raramente bebo); Saphire Bombay com fever-tree tonic water; Água de coco.
Top 3 da tua Bucket List – 1. Casar com a minha babe numa wedding chapel, em Las Vegas, talvez mascarado de Elvis – eu – e ela, de Marylin, com uma bebedeira descomunal; 2. Fazer a Route 66 num Mustang de 67 (antes ou depois do casamento, tanto faz). 3. Comprar uma Ducati Scrambler. 4. Passar um mês seguido em Bali. São só 3, já chega, mas é que tenho tantas coisas para fazer, antes de bater as botas!