Conversa de homens: Chef Luís Machado
Os Chefs são as novas rock starts? Sim e não! Depende do ponto de vista. Mas achamos que cada vez mais todos os homens podem aprender um pouco com eles. Não só a nível de cozinha mas também a nível de liderança e empreendedorismo. Voltamos a uma conversa de homens para podemos aprender com eles e partilhar convosco. Conheçam o Chef Luís Machado, as suas paixões e o que o move.
Os chefs são as novas Rock Stars? Achas que está na moda ser chef?
Sem dúvida que ser chef está na moda. Atualmente os chefs de cozinha não confecionam apenas uma refeição, criam conceitos, criam novas formas de consumo, criam experiências, um lifestyle. As redes sociais, os Instagrammers, os bloggers, os youtubers e toda a transformação digital que estamos a viver vieram ajudar a que ser chef seja trendy e a fazer desta profissão, que afinal é das mais antigas do mundo, uma moda. Claro que se há um lado positivo ligado à projeção, há um outro que mostra algumas pessoas sem qualquer estudo nesta área e que se considera chef. Eu estudei em cozinha e pastelaria e tenho uma licenciatura em cozinha e produção alimentar. E trabalho nesta área há mais de 20 anos. Às vezes pergunto-me se bastaria gostar de cozinhar? Mas, enfim, é algo com que temos que lidar e encontrar formas de nos adaptar.
Na prática, no teu dia-a-dia, notas alguma diferença entre os dias de hoje, em que os chefs têm uma grande exposição mediática, e os tempos em que nada disto era “moda”?
No meu caso, e olhando para trás, percebo que tive que desenvolver alguns skills ou competências precisamente para acompanhar as alterações que se foram sentindo. Com a ajuda do digital e dos novos formatos de consumo, o meu trabalho não se limita apenas a revistas impressas, também faço vídeos, sou convidado para ser júri, para ser embaixador, para ir à televisão. Por isso, atualmente já não basta termos competências técnicas também temos que ter uma imagem cuidada, temos que saber falar e saber estar em diferentes ambientes. Respondendo à tua pergunta, sim há diferenças, mas eu diria que para o bom, pois no meu caso fez-me evoluir e ir sair da minha zona de conforto.
Começaste a cozinhar desde criança ou não? Quando escolheste que esta seria a tua profissão?
Desde criança. Eu quando era pequeno gostava muito de comer, andava sempre a atrás da minha avó a vê-la cozinhar, mas claro que na altura o meu objetivo era comer. Sempre tive uma relação muito próxima com a comida e quando foi altura de tomar decisões na escola sobre o que queria estudar, soube que existia um curso de cozinha na escola profissional de Salvaterra e aí percebi que estava tudo ali e foi assim que entrei para o mundo dos tachos e das panelas.
Encaixas no perfil do chef com mau feitio e tirano quando estás na cozinha? Ou até tens bom feitio?
Eh pá, esta é difícil. Eu diria um pouco dos dois. Mau feitio e bom feitio mas tirano não. Defendo a teoria de que se a equipa não estiver satisfeita, não consegue satisfazer o cliente final. Na cozinha temos que ter muita paciência e uma grande capacidade para resistir à pressão. Tento levar tudo “na boa”, criar bom ambiente e fazer com que o trabalho seja uma diversão. Tento entender o porquê de as coisas não resultarem e os erros, mas às vezes percebo coisas que não gosto e é aí que o mau feitio sai cá para fora. Mas passado 10 minutos já está tudo bem.
Qual a tua inspiração, de outros chefs – portugueses ou não?
A minha inspiração em chefs portugueses é o chef Silva, com quem tive o privilegio de trabalhar e com quem aprendi muito. Outro chef português com quem também já trabalhei e onde também me inspiro é o chef Hernâni Ermida. Também me inspiro em bloggers que apesar de não serem chefs são influenciadores ao nível da culinária e com quem aprendo também. A nível internacional destaco dois, talvez os mais mediáticos: Gordon Ramsay e o Jaime Oliver.
Que conselhos dás a quem quer ser chef?
Que sigam o seu sonho, que não desistam ao primeiro obstáculo mas que também não se iludam a pensar que ser chef é de um dia para o outro. Que sejam humildades e dedicados. Que respeitem não só com os colegas mas também os alimentos. Que nunca lhes falte a curiosidade e a coragem para sair da zona de conforto.
É uma profissão em que há mais homens, pelo menos aos olhos do grande público. Porque achas que isso acontece?
Aí está uma pergunta curiosa, na qual até já pensei algumas vezes. Não tenho uma resposta “científica” para este fenómeno, mas na minha opinião e pensando que historicamente, a cozinha sempre foi um espaço atribuído à mulher. A mãe é que tinha a obrigação de cozinhar para a família. Acho que por isso quando tinham que escolher uma profissão as mulheres sempre tentaram “fugir” desta área. Fico contente por perceber que isto está a mudar. Atualmente, a cozinha já não é da mulher, os homens já não têm vergonha de dizer que cozinham em casa e já começam a surgir chefs mulheres no mundo da gastronomia.Também há quem defenda que os homens têm um paladar mais apurado e melhor mão para a cozinha, mas se calhar é melhor não entrar por aí…
Achas que os homens portugueses ainda cozinham pouco em casa? Ou é algo que está a mudar?
Está definitivamente a mudar. Cada vez mais encontro homens que cozinham principalmente para amigos. Acho que esta exposição mediática dos chefs, a moda da cozinha, as redes sociais, o foodie lifestyle, … ajudaram a desbloquear e a desinibir os homens. E depois não nos podemos esquecer que as mulheres adoram homens que cozinham. Segundo as minhas amigas, ver um homem a cozinhar para elas é sexy. Deixo a dica.
É possível a um tipo na casa dos 40 tornar-se chef, ou é melhor esquecer e continuar só fazer uns belos petiscos para os amigos?
Claro que sim, que é possível. Se é um sonho e uma paixão e principalmente se os amigos aprovam os petiscos, é já meio caminho andado para esse projeto se tornar realidade. E ultimamente temos tido vários exemplos destes em programas de TV como o Master Chef, que tem participantes mais velhos e cujo sonho é serem chefs. É verdade que alguns conseguem outros não, mas acredita que por traz dos vencedores está muito trabalho e persistência e o acreditar que é possível.
Que prato aconselharias a um homem que queira cozinhar para uma mulher que está a tentar conquistar? Atenção ao nível de dificuldade!
Tendo em atenção o nível de dificuldade, sugeria uns "Supremos de Frango com Mel e Nozes".Com alguma antecedência temperas os peitos de frangos e deixas a repousar. Depois com muito amor e carinho, recheias os peitos de frango com queijo creme e levas ao forno a corar. Quando tiver coradinho tiras do forno e colocar por cima um pouco de mel (pouco, porque tudo o que é demais enjoa …) e uma nozes partidas grosseiramente. Para acompanhar sugiro tagliatelle fresco e claro um bom vinho!
Um pouco de dramatismo agora: se tivesses que escolher um prato para a tua última refeição, o que escolherias? Para comer, não para confecionar!
Sem sobra de dúvida um típico prato português. Cozido à portuguesa, com todas as carnes e enchidos. Era do tipo comer até “rebentar”.
O que fazes para compensar a azáfama do dia a dia, tens hobbies?
Gosto de desporto, mais precisamente a corrida, por isso corro regularmente. Um hobbie mais calmo, para descontrair e relaxar, cultivo uma horta que tenho em minha casa. Sempre que consigo gosto de ir jantar fora para conhecer novos restaurantes e o trabalho de outros colegas. E por fim, mas na verdade é o mais importante gosto de me dedicar à minha filha, de passear em família.
Gostas de motas, certo, tens uma BMW? Desde quando conduzes motas e o que significa para ti? Um meio de transporte ou algo mais?
Pois, motas. São uma grande paixão. Tinha 16 anos quando tive a minha primeira mota, uma DT. Depois devido a várias questões tive mais de 15 anos sem andar de mota. Assim que tive alguma independência financeira o bichinho voltou e comprei a BMW. A mota significa para mim liberdade, descoberta e as vezes uma terapia. Há dias em que é preciso espairecer para voltar a pôr as ideias em ordem e muitas vezes um passeio de mota funciona como uma excelente terapia.
A pergunta inevitável: projetos para o futuro? Um restaurante? Um programa de TV?
Ui, ideias não me faltam! O meu objetivo claro que é evoluir e crescer de uma forma sólida e pouco efémera e por vezes há coisas que demoram algum tempo a chegar. Talvez aquilo que esteja mais perto de acontecer seja um livro só meu. Há muitas pessoas que me perguntam se tenho um livro e ando a pensar seriamente nesta questão. O restaurante, sempre tive vontade de ter um com umas características muito próprias, mas sei que ainda não é o momento. Um programa de TV também é algo que ambiciono, mas enquanto a oportunidade não surge faço os meus diretos no Facebook, que têm um excelente alcance, onde me divirto imenso às 5 feiras à noite com os meus seguidores. Acredito que tudo chega no tempo certo, por isso pode haver novidades em breve.
BI
Idade: 39
Naturalidade: Salvaterra de Magos (coração do Ribatejo)
Clube: Sporting Clube de Portugal
Desportos preferidos: Andebol, futebol e corrida
Filme de eleição: "Chocolate"
A música que nunca farta: Xutos & Pontapés, sempre!
Prato preferido: Cozido à portuguesa, canja e arroz de pato
Bebida preferida: um bom vinho português. De preferência do Douro
Top 3 da tua Bucket List:
Fazer um livro de culinária
Fazer uma meia maratona em cada capital europeia
Entrar num programa de ajuda humanitária num país africano