Conversa de homens - Chef Chakall: “Vou ter nacionalidade portuguesa”
Num final de dia, em Marvila, Lisboa, estivemos à conversa com o Chef Chakall no seu El Bulo Social Club. E falámos de tudo o que um homem gosta: motas, mulheres, comida e futebol. Leiam a entrevista nas linhas seguintes do argentino mais português do mundo. Ou vice-versa.
O que gosta mais em Portugal?
Gosto muito de Portugal e dos portugueses. Depois de aqui estar 18 anos sinto que posso ser português. Nunca senti que podia ser outra coisa, para além de argentino. Podia ser alemão, fui casado com uma alemã durante 11 anos, mas gosto tanto de Portugal e dos portugueses depois de tantos anos decidi que este é o ano que vou ter nacionalidade portuguesa. Além disso tenho uma filha portuguesa. E agora vou passar a ter dupla nacionalidade.
E o que “resta” do Chakall argentino?
O futebol, sobretudo, e o gosto por gelados. Mas no futebol, e quando há competições na Europa sou português, mas num Campeonato do Mundo sou argentino e depois é que sou português.
E também sou muito carnívoro, argentino puro! Adoro peixe mas a carne de vaca está muito por cima nas minhas preferências.
E onde está a parte portuguesa?
Adoro fado. Adoro Fernando Pessoa. É o maior, está acima de Borges. É mesmo dos maiores escritores do mundo. E gosto das pessoas e do povo português. Não gosto das elites, embora dependa das elites, mas nunca me dei com as elites estúpidas. Não sou condescendente com a estupidez. E gosto muito de viajar por Portugal, conheço muito bem o país - se calhar melhor que alguns portugueses - as vilas, os locais menos conhecidos.
E qual a imagem que tem hoje do homem português? Desde que chegou, há 18 anos, o homem português tem evoluído?
Sim, tanto o homem como a mulher. A minha primeira imagem de Portugal, vindo de Buenos Aires - uma cidade cosmopolita cheia de cultura - foi em 1997, antes da Expo, cheguei a Lisboa e tive um choque. Lembro-me que uns meses depois fui à Kapital e achei uma discoteca de província de Buenos Aires. Hoje em dia mudou completamente, Lisboa uma cidade de ponta. As tendências chegam cá imediatamente. Acho que os jovens portugueses são muito mais modernos e o macho de bigode morreu. Na altura via os velhotes a cuspir na rua… ficava chocado. E isso não existe mais, nem os velhos já fazem isso. Há muito mais civismo em tudo. E o homem está mais refinado, tal como a mulher. A forma de vestir, por exemplo, ou as tendências. Antes era impossível as tendências das barbas e hoje ninguém fica chocado. Acho que é homogéneo, sobretudo na Europa. Viajo muito entre Portugal e a Alemanha e apesar de serem dois mundos diferentes, já não são tão diferentes. O civismo impera.
E como tem sido a mudança da mulher portuguesa?
Mudou imenso. Na altura tenho mais ideia das mulheres que dos homens (risos), era solteiro... Mas era muito estranho como se vestiam e como se comportavam, eram mais infantis que as argentinas. Imagina, na Argentina aos 17 anos estás fora de casa a viver com amigos. Quando cheguei cá isso não acontecia com quase ninguém. As mulheres hoje em dia estão mais modernas. Mas também há mulheres e mulheres, como há homens e homens. Mesmo na altura em que era solteiro conheci algumas mulheres bem despachadas...(risos).
E os homens hoje estão a saber lidar com essa evolução da mulher portuguesa?
Os miúdos têm relações com as namoradas um pouco mais liberais. Mas depende do tipo de família. Se fores de Cascais é uma coisa, se fores de Almada é outra. Acho que tem a ver com a educação e com o nível social de onde pertence a família e onde são criados. E penso que isso é muito mais limitativo do que a sociedade em que se vive e a evolução que o país tem. Para os nossos pais somos uns loucos, e por sua vez não percebemos os nossos filhos que passam o dia agarrados ao telemóvel e à TV…
Falemos agora de paixões, paixão pelas motas, sobretudo pelas Vespas e Moto Guzzi. Como nasceu essa paixão?
Adoro motas! A minha família tem um campeão sul americano de motocross. Somos seis irmãos e apenas um de nós não gosta de motas, o resto somos completamente loucos por motas. Tínhamos sempre oito, nove motas desmontadas na garagem de casa. Conheço bem como funcionam. E na Argentina só andava de mota. Lá tinha uma Yamaha e depois tive uma Honda. E cá, por razões de patrocínios, comecei a andar de Vespa e daí passei para as Moto Guzzi pelas quais me apaixonei. Tenho uma que é única cá em Portugal, uma V7 Edição Especial, e agora acabei de comprar outra que era da polícia italiana, de 1971 e está a ser recuperada. Tenho ainda um triciclo que mandei transformar e que em breve estará pronto. Para além das “Guzzi” tenho uma Honda 600, Vespa 946 outra Vespa 300 GTS e três triciclos da Vespa. E ando de mota todos os dias, faça chuva ou sol. Só não gosto de andar em auto-estrada.
Outra das grandes paixões que tem é a marca Puma. Porquê?
Tive uma oferta para ser patrocinado pela Nike, mas não gosto nada da marca. O que gosto mesmo é da Puma, que tem a ver com Maradona. E também porque sou um outsider e nunca gostei de coisas mainstream. Sou assim desde pequeno. E durante o Euro 2004 foi convidado pela Puma para jogar um torneio de futebol de praia, no Porto. E dois anos depois quando comecei a gravar o primeiro programa, pedi-lhes patrocínio pelo gosto que sempre tive pela marca. E começamos com um pequeno patrocínio e evoluiu. Hoje em dia estou sempre vestido de Puma. Adoro! Era incapaz de vestir uma coisa que não gosto, que não tem a ver comigo. Por exemplo, gosto da Adidas, mas a minha marca sempre foi Puma.
E futebol? Qual o seu clube do coração?
River Plate. Na Argentina ia ver muitas vezes os jogos do River e, claro, como nasci em Tigre também gosto da equipa de Tigre. Mas adoro futebol, e embora já não jogue com a regularidade ideal para ter boa forma, por causa das muitas viagens que faço, adoro jogar. Em Portugal vou ver o Benfica várias vezes, conheço o Aimar e conheço o Rui Vitória. Também tenho vários amigos no Porto e no Sporting, aliás, quando o Puma patrocinava o Sporting viajei com eles várias vezes para vários países para ver os jogos.
Falando do projeto El Bulo Social Club, o que vai acontecer nos próximos tempos e como tem corrido este ano e alguns meses de abertura?
Vamos passar a ter todas jazz todas as quintas-feiras. Queremos que seja mais night club e bar. Queremos que seja como na América Latina, as pessoas vêem jantar e ficam para ouvir música ou dançar. Além disso, a gastronomia é muito sul-americana. São os pratos que gosto e outros que vou inventando, sempre com bastante carne.
E a quem vem jantar pela primeira vez ao El Bulo Social Club, o que sugere?
Começaria por uma degustação de chevices, empanadas típicas argentinas, e depois borrego.
Isso tudo para acompanhar com vinho ou cerveja?
Um pisco ou uma cerveja Estrella Damn 1906 para os ceviches, e depois um vinho argentino. Aliás, um Rui Reguinga Touriga com Malbec, é um enólogo português que levou para a Argentina Touriga Nacional e criou um vinho que é Argentina com Portugal. Ou seja, sou eu!
Os Chefs estão na moda há algum tempo, se alguém quiser começar a cozinhar quais são os seus conselhos?
Primeiro tem de se ter vontade e gosto por comer e cozinhar. Sem paixão não se consegue. E depois é ter paciência, muita paciência. As coisas não saem bem logo à primeira. As receitas que estão nos livros são ideias, as pessoas têm de interpretar e saber os fatores que vão influenciar a comida, como a temperatura, a água…, fazer uma pizza em Lisboa é diferente de fazer no Porto, por exemplo. E depois na cozinha tens de saber cozer, assar e grelhar. É isso.