A importância de uma mariscada entre amigos
Há tradições que se foram esfumando ao longo das últimas décadas na nossa sociedade. Contudo, aqui pela opinião dos elementos do LiAM há muitas que valem bem a pena reavivar. Uma delas é, sem dúvida, os jantares de marisco com os amigos. Amigos homens - e já explicamos porquê.
Lembro-me que, no tempo dos meus pais - finais dos anos setenta e oitenta - e apesar do dinheiro ser mais escasso (ou menos bem distribuído), uma bela mariscada entre amigos era um acontecimento muito importante. Um marco dos dias de verão que era repetido com a escassez que os tempos impunham. Uns conseguiam fazê-los algumas vezes ao mês, outros ao trimestre e a maioria para celebrar uma acontecimento de vida. Um nascimento, um pedido de casamento, uma licenciatura ou a carta de condução tirada ao fim de uns chumbos.
Esses jantares, por vezes, não abundavam nos “frutos do mar”, e iam pouco mais além de que uma sapateira para dois dividida por quatro, umas cervejas e o famoso prego no final. Havia quem preferisse santola, outros sapateira. Uma espécie de benfica/sporting dos mares.
Mas, mais do que o repasto em si, era o tempo de estar à vontade. Por isso no início do texto sublinhei a parte de serem encontro de homens. E passo a explicar, até porque sou um grande feminista: refeições com marisco são bárbaras!
Incluem martelos, pinças, fricções, molhos a voar entre as mesas, lábios visitados permanentemente por pedaços brancos da carne do mar, barulhos de sucção e os dedos peganhento que envolvem as canecas de vidro com cerveja lá dentro. Já para não falar das nódoas na camisa que até então estava imaculada.
É um momento onde os modos e a etiqueta que as mulheres sempre nos merecem, são esquecidos. Aqui, e desculpem senhoras, é para estarmos à vontade uns com os outros e deixarmos o cavalheirismo na porta da entrada do restaurante a fazer companhia ao marisco que ainda sobrevive empilhado nos aquários.
A mariscada foi sendo substituída por outras opções. Nada contra. Mas, senhores, não é a mesma coisa!
Recentemente eu e o João voltámos a essa tradição. Fomos até à Marisqueira Ribadouro e, na esplanada da Avenida da Liberdade, com ecrãs de TV ligados entre jogos do Mundial, fizemos o nosso jantar de marisco de homens. Sem grandes cerimónias. Apenas concentrados na comida e na conversa.
O marisco estava mediano, um pouco seco. Fez-nos pensar se haveriam retroactivos físicos no dia seguinte (o que não aconteceu). Confessamos que para uma marisqueira tão conceituada estávamos à espera de melhor. Não foi mau. Apenas cumpriu os serviços, mas os mínimos. Mas como esta não é uma crítica de comida, e sim um post sobre tradições entre amigos que devem ser reavivadas, não nos vamos alongar nas reparos gastronómicos.
Gostámos da experiência, e de nos sentirmos como sentiam os nossos pais em momentos especiais que envolviam marisco. E certamente vamos repetir, a dois ou com mais comensais prontos para um par de horas de lutas bárbaras com bom marisco.