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Like A Man

22 de Dezembro, 2020

O melhor Natal de sempre!

Filipe Gil

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Nunca mais vou esquecer aquele Natal. Não foi assim há tanto tempo, mas foi o melhor de sempre. Coloquei gravata por baixo do pullover azul escuro, como via os pais dos meus amigos do Liceu fazerem quando os visitava nas vésperas de Natal. Achei que aquela noite merecia, era uma ocasião especial – nem eu sabia quanto.

Lembro-me da mesa estar cheia de comida e de boa bebida. Excelentes vinhos que me tinham oferecido e, no armário, à espera, os whiskeys e aguardentes para acompanhar os doces.

Na aparelhagem passavam uns clássicos de jazz de Natal e, de vez em quando, uma ou outra música mais popular da época. Desde um “Have Yourself a Merry Little Christmas”, interpretado pelo Rod Stewart aos Wham e Mariah Carey, claro.

Entretanto, na azáfama, com a casa a cheirar a canela das velas sempre acessas, lembro do miúdo mais velho, na altura com 4 anos, excitado com os presentes que ia abrir dali a poucas horas. O outro, bebé a fazer dois meses, na vida dele.

Chegaram os pais, sobrinhos, cunhados, sogros. Casa cheia de gente tão diferente mas que naquela noite fazia sempre o esforço de ser a tal noite de paz, como dizem as canções da época. Mais espaço houvesse e tinha convidado mais família para se juntar.

Rimos, comemos. Mandámos boca uns aos outros. Divertidos, felizes.

Lembro-me que às tantas fui adormecer o mais novo. Embalei-o para adormecer, cantarolei músicas de Natal e o hino holandês, não me perguntem porquê, o subconsciente é tramado, mas eles gostavam de ouvir.

Voltei para a mesa, falou-se de futebol, política, religião, tudo o que a boa educação e protocolo manda evitar. As horas foram passando e pela meia-noite os presentes foram abertos numa barafunda controlada para não acordar o mais novo.

Um pouco depois todos foram para as suas casas. Sem stresses, sem pandemias, sem doenças ou mortes de alguns dos presentes nesse jantar. Essas vieram nos anos seguintes.

Quando, depois de arrumar as coisas e de ter os putos a dormir, me sentei no sofá ao lado da mulher, senti que tinha sido o melhor Natal de sempre. Que tinha sido tudo aquilo que tinha desejado em adolescente, quando no passado, ao percorrer os corredores do Amoreiras à procura de presentes, pensava no futuro.

A partir desse Natal as coisas nunca mais foram as mesmas. O Natal tem agora outro sabor, talvez um dia voltem a ser. Acredito piamente nisso. Noutro formato, com outras pessoas, mas o mesmo sentimento. Até lá há esperança!

Afinal, o Natal é isso, não acham?