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Like A Man

25 de Abril, 2020

A revolução em direto (e de pantufas)

João NC

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Têm sido dias difíceis, não o vou esconder. Mais de um mês confinado em casa, com pouco mais do que contactos esporádicos com família, amigos e colegas, está, enfim, a pesar. Pesam os dias, pesam as notícias e pesa a perspectiva do que virá depois. Nada disto é consciente, no meu caso. Em consciência tento ver o copo sempre cheio, nunca meio vazio. Mas estas são circunstâncias especiais, que nos apanham a todos desprevenidos. E foi desprevenido que fui apanhado no já célebre direto no Instagram do Bruno Nogueira (aka Corpo Dormente). Aquilo que já se tornou num hábito de conforto diário atingiu, nesta madrugada de 25 de abril, um nível que ninguém esperava. Falo por mim. Aproveito os momentos diários para ir arrumando pela casa as coisas que os dias desalinham. Momentos em que sabe bem não pensar em nada e ficar só a ouvir. E rir, claro, que o conteúdo é humorístico.

Ontem era essa a ideia.

Estava a lavar loiça do dia quando entra o Vhils em direto de sua casa, onde esculpia a cara de Zeca Afonso numa das paredes.

Já o tinha visto durante a tarde a fazê-lo e encarei isto como a sequela. Mas não. O que aconteceu a seguir foi toda uma nova série de sentimentos que não vos consigo explicar em palavras. Se foste um dos mais de sessenta mil que estavam ligados naquele direto, vais perceber, mas houve ali um encontro raro de presente, passado e futuro. A magia da música do Zeca que se sobrepunha ao som da intervenção artística do Alexandre perante o olhar enternecido do Bruno, tornou-nos a todos família naquele instante. Sessenta e sete mil almas a sentirem o mesmo, unidas no respeito ao passado que muitos não viveram e confiantes num futuro que, mesmo sem querer, temíamos. Até àquele momento. Ali o tempo parou. E eu parei com ele. Convosco. Sentei-me no sofá e fiquei ali, de mãos dadas com aquele pedaço de esperança audiovisual, sem saber muito bem o que estava a acontecer. E a seguir vem o Nuno, com a guitarra, pedindo desculpa pelo que ia fazer, sem saber que ia dar-nos a mão e caminhar connosco neste “walk of pride” de sermos humanos. E portugueses. Já meio anestesiados, no melhor dos sentidos, escutámos a Ana a esgrimir as incríveis palavras do Sérgio e da Sophia com a mestria que só a Capicua sabe empregar. Mas a estocada final chegou pelos dedos do Filipe, que trouxe outro amigo também. Amigo que rapidamente se tornou família, como todos os que ali estávamos.

E ali fiquei, no sofá, mais de uma hora depois de tudo terminar, sem saber o que pensar de tudo aquilo.

Que magia foi aquela que nos roubou o desassossego destes dias de incerteza e nos deixou cheios de certezas? Se vai correr tudo bem? Ninguém sabe. Mas sabemos que vamos juntos e será juntos que vamos sair disto. Para começar tudo de novo, se for preciso. E nesta caminhada: 

“Seja bem vindo quem vier por bem

Se alguém houver que não queira

Trá-lo contigo também”

25 de Abril, 2020

Mulher sem nome

João NC

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Deixem-me falar-vos da minha avó. A minha avó, que é como se fosse minha mãe, tem 91 anos. Mãe da minha mãe, é “mãe duas vezes”, como tantas vezes nos diz. 91 anos de vida e não tem nome.

Quero dizer, tem. Mas é próprio. Não lhe é de família. Por vicissitudes várias que para aqui não interessam, foi com dois nomes próprios que se fez à vida e assim passou grande parte da mesma.

Casou e descasou, coisa rara para a altura, mas sentida para quem a viveu na pele. Sentida bem fundo até porque lhe trouxe - e depois levou - o apelido que hoje lhe falta. Um sentimento que lhe toca fundo no peito, sabemos nós que a conhecemos bem. Foi assim que a conheci, de resto. Sem nome e sem fortuna. Quero dizer, é dona da fortuna de ter uma família que a ama e lhe quer bem, e isso já é fortuna boa, que a minha avó é de sonhar baixinho. Sempre a conheci assim.

A sonhar baixinho e muito perto. É navegação à vista, mas em sonhos. Vai desejando aos poucos, como quem tem medo de pedir demais. Terá a ver com as origens humildes que lhe roubaram também o nome, mas é assim a minha avó. Só pede para ter saúde. Um ano depois do outro. Uma meta após a outra.

Começou - a parte que lhe conheço, entenda-se - por querer ver os netos “formados”. E assim foi. Depois queria vê-los (bem) empregados e encarreirados para a vida. Tanto quanto isso pode acontecer nestes tempos que nos empurram para a frente sem saber o que vai ser, assim foi também. Seguiu-se o desejo de ter bisnetos. Valeu-me o estatuto de irmão mais novo para assistir a tudo na plateia destes acontecimentos. Dois, no caso. Dois bisnetos depois a minha avó colocou o conta quilómetros dos sonhos a zeros. A zeros não, que há dois dígitos que continuam a contar. Já lá vão 91 anos, mas com os bisnetos vieram novas metas. Crescidos, já lhe passaram a altura. É pequena, a minha avó, dobrada ao passar dos anos, como quem se arruma para ficar cá mais tempo.

Espero que fique cá para sempre. Mas não lhe digam nada. Quero que ela continue a sonhar baixinho. À vista e a ver muito de perto, que a vista cansada já não dá para mais. É assim a minha avó. A minha mãe duas vezes que, afinal, tem nome. É Maria Amélia, a minha avó. O apelido? É Amor.

22 de Abril, 2020

Nvidia Shield TV: A melhor experiência que pode ter no seu televisor 4K

LiAM

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Texto por Fernando Marques:

A recente decisão de adquirir um televisor 4K levou-me a deambular pela oferta de aparelhos de streaming existentes no mercado. O televisor – apesar de ser smart (esperto) e de ter um leque de especificações bastante bom para o preço – sofre do problema da maioria das atuais smart tv’s – o sistema operativo deixa muito a desejar, revelando aquilo em que os fabricantes menos investem. 

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A exceção são os televisores com Android TV, um sistema operativo que utiliza a conhecida plataforma da Google e está otimizado para funcionar numa televisão. O problema é que são poucas as marcas que optam por esta solução, a que comprei incluída.

Obviamente que o televisor funciona, a componente “esperta” já vem com as aplicações (apps) mais populares instaladas, e até permite ler ficheiros a partir de um disco ligado na porta USB ou na rede. Então, qual é o problema? A disponibilidade de apps é reduzida e raramente são atualizadas e o desempenho, sobretudo, a ler ficheiros na rede é, no mínimo, sofrível. Mais uma vez, a maioria dos fabricantes não se preocupa muito com este aspeto. 

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A solução passa por adicionar um aparelho de streaming que funcione com o Android TV. Há muitos no mercado, alguns até a preços bem acessíveis. Testei um destes e a experiência não foi gratificante porque a versão do Android TV não era a mais recente e as especificações de hardware eram demasiado modestas. Na busca de uma solução, tropeço na Shield, da marca Nvidia, que conhecia sobretudo por fabricar placas gráficas para PC.

Mas este é um aparelho para ser ligado a um televisor, que tanto pode ser de última geração, como um mais antigo – ainda não smart, e assim, ganhar esta funcionalidade. Distração minha, pois o Nvidia Shield já existe há cinco anos, num formato que se assemelha a uma mini consola de jogos. 

Agora a Shield TV surge num formato menos ortodoxo (cilíndrico), em que é nas extremidades que se ligam os cabos de rede, HDMI e de corrente. Não menos estranho é o comando, com um formato triangular, mas que acaba por se revelar bastante ergonómico na sua utilização. Assenta bem na mão, os botões são retoiluminados, ativando-se quando o levantamos (questiono-me porque não são todos assim) e como funciona por Bluetooth, não é preciso apontar para a Shield para controlar as definições.

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Recomendo ligar a Shield TV na entrada HDMI do televisor que diz ARC (audio return channel) e assim pode controlar os dois aparelhos com apenas um comando e sempre que ligar a Shield TV o televisor muda automaticamente para a entrada certa. O interface do sistema operativo Android TV é simples mas refinado: o ecrã principal mostra-nos um resumo do conteúdo mais recente das aplicações, que pode ser personalizado à nossa vontade. 

A lógica de utilização dos botões no comando é a mesma que utilizamos num smartphone com Android, mas existe um botão de acesso direto à Netflix, o que se traduz numa experiência de utilização muito agradável. Não há a app da Apple TV, mas a lista de aplicações disponível é vasta: Google Play, Amazon Prime Video, Netflix, YouTube, RTP Play, HBO, Plex, Vimeo, só para enumerar algumas. Há ainda outras formas de entretenimento, como os jogos para Android e o serviço de streaming de jogos Nvidia GeForce Now, em que a maioria dos jogos é paga, embora alguns se possam experimentar gratuitamente, basta adicionar um comando bluetooth que pode ser da Nvidia ou outro. 

Além do funcionamento nativo para as apps, a Shield TV suporta também a funcionalidade Chromecast 4K, que no fundo permite enviar praticamente qualquer conteúdo do smartphone, Android ou iPhone, tablet ou até do computador, sem fios para o televisor. Se não gosta de andar às voltas com menus, o Google Assistant vai ser o seu novo melhor amigo, é só carregar no botão do microfone e falar com o Assistant. É possível iniciar aplicações, controlar o volume e procurar séries, filmes ou músicas. A voz pode assim ser usada para controlar funções como play, próxima música e até um tempo específico num tema que esteja a tocar no Spotify, num filme ou série. Tudo isto é fantástico, mas o que é verdadeiramente espantoso é o que a tecnologia utilizada pela Nvidia que faz uso de AI (inteligência artificial) para fazer upscale (esticar) conteúdos sub-HD, e HD para 4K com resultados impressionantes. Aqui, a Nvidia está noutro “campeonato”, pois conseguir esticar conteúdos em HD para preencher um ecrã 4K, com quatro vezes mais pixéis, não está ao alcance da maioria dos aparelhos de streaming. Em cenas com muito detalhe, a Shield TV leva-nos a crer que estamos a ver algo que está originalmente em 4K. Paisagens urbanas ficam incrivelmente nítidas, enquanto rostos, automóveis e até vida selvagem melhoram significativamente. Embora seja preferível que o conteúdo HD seja recente, funciona igualmente bem com algo mais antigo – a melhoria é notória, por exemplo, nas primeiras temporadas de da série Twin Peaks.

 

Preço: 159€ disponível em: www.pcdiga.com/box-nvidia-shield-tv-2019-4k-hdr

 

Especificações:

Processador: Nvidia Tegra X1+
MemóriaRAM: 2 GB 
Armazenamento: 8 GB + microSD card
Conectividade: wifi ac, Bluetooth 5, gigabit ethernet, HDMI 2.0b (HDCP2.2)
Sistema operativo: Android TV (Android 9 Pie)
Formatos suportados: até 4K @ 60Hz, Dolby Vision, HDR10, Dolby Atmos, TrueHD and Digital Plus, DTS-X
Dimensões: 40mm diâmetro, 165mm comprimento
Peso: 137g

22 de Abril, 2020

Receita clássica: como cozinhar uma omelete (bem feita)

Filipe Gil

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A sério? Uma omelete? É certamente isso que estão a pensar os leitores. Então estes tipos dizem que têm uma receita para partilhar e é uma simples omelete??

Têm alguma razão. É uma omelete, mas não é simples. É uma omelete à francesa, da forma com os grandes chefs fazem. Parece simples mas requer alguma técnica. Confesso que só comecei a “dominar” lá para a quinta vez que repeti o processo. 

Mas o resultado, e sabor, é bem diferente de uma simples omelete.
Vamos a isso? De utensílios necessitam de uma frigideira com fundo anti-aderente, uma taça e um garfo. Sim, um garfo. 

Ingredientes:
Manteiga
3 ovos  (se forem biológicos melhor)
Sal q.b.
Pimenta q.b.
Cebolinho (opcional)

Preparação:

  1. Com o garfo mexer os três ovos para ficarem uniformes, juntem sal e pimenta a gosto (cuidado com o sal por causa da saúde e porque é aqui que podem arruinar a receita com o excesso de sal). Podem juntar um pouco de cebolinho cortado em pedaços pequenos. Ou não.
  2. Na frigideira, com lume alto, juntem uma colher de sopa de manteiga. Quando esta começar a borbulhar e ainda com cor branca, juntem os ovos. Baixem o lume, os ovos são sensíveis.
  3. Deixem os ovos coagular durante cerca de 8 segundos. Comecem a trazer para o centro a parte dos ovos já solidificada.
  4. E aqui começa a separação entre uma boa omelete e uma...muito normal. Com uma mão na frigideira e outra a segurar o garfo, mexam os ovos sem parar e em círculos, com a parte de trás do garfo (para não riscar a frigideira). Okay, aqui começam a pensar: mas isto é uma ometele ou um ovo mexido? A diferença é mesmo essa, até aqui podia ser uma das duas opções. 
  5. Continuem a trazer as partes já sólidas para o meio da frigideira, para que o ovo vá coagulando de forma uniforme. 
  6. Não se esqueçam que uma omelete bem feita é mal passada. Para que mais tarde o interior da omelete fique mais mole, mas não líquido. Interior da omelete? Sim, tenham calma. Ponto seguinte:
  7. Levantem um lado da frigideira ligeiramente para que os ovos mexidos fiquem mais encostados ao outro lado. Com a parte já uniformemente cozida dos ovos - aquela que está em contacto direito com a frigideira, comecem a enrolar a omelete, para formar uma meia lua. A ideia é criar uma espécie de capa para o interior mais húmido

20160323-french-omelet-vicky-wasik-collage-2.jpg8. Antes de fazerem o mesmo na outra parte da omelete para a fechar, podem juntar um pouco de imaginação em forma de cogumelos, frango, ou ervas a gosto. Não pode ser em grande quantidade porque senão a omelete não fecha (um erro que aprendi). 

9. Depois, é um truque de magia: uma mão com a frigideira e a outra com um prato. Encostem o prato à frigideira para, num só movimento, colocarem a ometele no prato virada com a parte lisa para cima. Et voilá, pronta a servir. Parece um rolo (vejam a foto), uma meia lua. É comer quase de imediato. Acompanhado de um copo de vinho tinto é tão simples quanto divinal. E não têm de quê. 

Como sou daqueles que receitas escritas é sempre uma coisas muito estranha, e já que tiveram este trabalho todo a ler, deixo-vos o link de um vídeo do próprio Mestre Jacques Pepin e a sua forma de fazer omeletes, para ver a partir do minuto 3:12.

Parafraseando o saudoso Anthony Bourdain:  "The way you make an omelet reveals your character."



20 de Abril, 2020

Obrigatório: consumir português

Filipe Gil

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A economia (já) está de rastos. É uma ferida muito profunda que vai demorar a sarar. Mais uma vez. Para a geração dos quarentões e quarentonas, ou quase lá, é a segunda vez. Primeiro foi a crise de 2008, quando muitos começavam a ganhar voos, a liderar equipas, a avançar com projetos próprios, a ganhar mais dinheiro, zás! Tudo se desmoronou. 

Foram uns cinco a seis anos para recuperar, para voltar a ter uma vida mais normal, no qual os sonhos voltassem a comandar a vida. Agora com a pandemia da covid-19 parece que voltamos ao mesmo, senão pior.


Para uns irá custar muito, para outros nem tanto. É quase uma roleta russa. Quem era precário vai sentir a precariedade aumentar. Quem tinha uma vida razoável, pode ver uma hecatombe acontecer e deixar de ter dinheiro para pagar as mensalidades das várias coisas (é disso que é feita a economia e prosperidade das pessoas em Portugal): o ginásio, o streaming da TV, o SUV, etc., a viagem do verão passado que ainda está a ser paga...

Isto sem querer ser demasiado pessimista, porque há casos que ainda serão muito mais graves.

Mas há forma de revertermos esta situação? O que cada um de nós pode fazer quando parece que nada está nas nossas mãos? Pouco mas há. Comprar, consumir e preferir produtos e serviços portugueses. Partilho algumas ideias que, acho, podem ajudar:

- A primeira é óbvia, protejam-se e ao sair de casa usem sempre máscara e evitem a proximidade social. Porque não comprar máscaras às várias empresas portuguesas que as estão a fazer. Talvez seja um pouco mais caro do que mandar vir da China por um site estranho. 

- Comprar em mercados tradicionais (onde geralmente os produtos chegam de produtores nacionais e locais).

- Nos supermercados, tentar perceber quais os produtos que têm original nacional para os comprar, em deterimento de outros internacionacionais. Queijo e enchidos portugueses, cerveja nacional, arroz português, etc. Perguntem diretamente aos funcionários - com a distância devida - a proveniência dos produtos.

- Comprar produtos da época. Não vale a pena querer comer aquela laranja quando estamos no tempo de outras frutas. E podem continuar a consumir e a fotografar abacate, desde que seja cultivado em Portugal, okay? (Não sabia, foi um leitor que nos indicou. obrigado). 

- Comprar roupa portuguesa. Pode custar um pouco mais, mas dura muito mais. Já fizeram aquele exercício mental de pensar como pode custar menos de 5 euros uma t-shirt de uma marca internacional que vem da Ásia? Como foi pago o trabalhador que a fabricou? E quem a transportou? Alguém deve andar a ser explorado, certo?

- Na impossibilidade da necessidade de produtos que não sejam de marcas portuguesas, pelo menos escolham de marcas que tenham fábricas em Portugal.

- Começar a pensar quais os restaurantes que vão visitar no final da quarentena. A restauração vai precisar da ajuda de todos. 

- No Instagram e no Facebook há várias iniciativas de apoio a produtos portugueses, como esta: #consumirportugues. Pesquisem na rede social.

E há mais ideias. Muitas mais. Se quiserem contribuir, digam nos comentários que voltaremos a este assunto.

03 de Abril, 2020

5 coisas que não deve fazer em dias de quarentena

Filipe Gil

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Isto é tudo uma experiência, certo? Um dia vamos acordar deste pesadelo da pandemia da covid-19 e perceber que foi tudo uma grande experiência social. Que foi manipulação da opinião pública, que alguém enganou governos e OMS, certo? Que o vírus é uma invenção para colocar o mundo em pânico, não é tão letal e não é mais do que uma vontade de alguns de fazer nascer uma nova ordem mundial e económica. Um Big Brother real. Maléfico. 

 
Mas não, apesar do desejo de estarmos a viver uma má ficção. Tudo é bem real. E ao fim de duas semanas de “cativeiro” e sem luz ao fundo do túnel deixamos aqui algumas coisas que devem evitar de fazer – que aprendemos na pele.
 
1. Nunca deixem de tomar banho. Confesso que nos 21 dias que estou em casa houve um dia, esta semana, que não tomei. Para além da higiene básica, fiquei praticamente com o mesma roupa desde que acordei. Passei o dia do computador para a mesa, da mesa para o computador. Foi o pior dia para mim. Senti-me triste, mal disposto, sem uma pinga de humor. E farto de tudo. Parecia que estava a viver o dia anterior e o outro antes desse. Tomar banho, para além das questões de higiene, serve para um momento de pseudo SPA (atenção aos gastos com a água), deixa-nos frescos e com mais força para o resto do dia – por muito stressante ou aborrecido que seja.
 
2. Evitar ler notícias nas redes sociais. Este é um conselho dois em um. Sigam apenas canais informativos de confiança. Optem pelos mais institucionais – já não há paciência para aqueles vídeo sentimentais com música fazer chorar as pedras da calçada que certos canais de TV teimam em passar nos telejornais. Teve piada no início, mas não nos faz bem, acreditem. E evitem seguir noticias sobre o vírus que surgem no vosso feed das redes sociais que não sejam de jornais sérios. E mesmo assim, outro conselho aqui metido: não leiam/vejam só coisas sobre a covid-19. Há mais para além disso, há histórias muito interessantes nos jornais que noutras alturas mal tínhamos tempo para ler e que estão por lá à nossa espera. Agora é a oportunidade, e o tempo. 
 
3. Não fiquem parados, descubram um hobby. Mesmo que para muitos de nós o teletrabalho se tenha tornado uma valente merda - às vezes aquele xixi fica retido umas três horas só porque tudo parece urgente e se não mandarmos aquele e-mail o mundo acaba de vez. Mesmo assim, é muito importante arranjarem um hobby. Apesar de trabalhar uma média de 10 horas por dia, tenho cozinhado, muito. Peço até para cozinhar cá em casa. Aqueles 30 minutos a cortar legumes ou carne, cozer, fritar, queimar-me, valem ouro.  Costumo ouvir uma música de elevador enquanto o faço (geralmente um jazz ou clássica) e sabe-me pela vida empratar e ver a cara de prazer quando lhes sirvo. Mas há mais: plantas, escrever (quem não o tem de fazer profissionalmente), bricolage, macramé. Aprender linguagem gestual. Tudo vale para estarmos afastados das redes sociais e TV's. Quem sabe não nasce uma ideia de negócio de tudo isso.
 
4. Não menosprezem o vírus. Isto pode efetivamente acontecer. Resguardados nas nossas casas, quando mandamos vir as compras online, quando temos pouco contacto com o exterior, quando evitamos demasiadas notícias, tendemos a esquecer o vírus. Às vezes da janela da varanda onde trabalho vejo, não regularmente, familiares e amigos a visitarem-se. A entrar nas casas uns dos outros, a ir falar para saber se está tudo bem. Ora, a não ser que sejam cuidadores e necessitem mesmo de ir a essa casa para cuidar de alguém, estes não são tempos de nos reunirmos em casa uns dos outros. Com o passar dos dias esquecemo-nos do vírus, quem tem ferramentas mentais para tal, e é uma grande chatice porque parece que está tudo bem. O que não está. O novo coronavírus é silencioso. E somos nós, humanos, que o transportamos. Tenham atenção a isso. 
 
5. Não deixem de fazer exercício físico. Aposto que apenas 20 por cento das pessoas seguem metodicamente os treinos que hoje encontramos aos magotes na redes sociais. Eu faço parte dos restantes. Apesar de ver treinos, de ter amigos a treinarem, não consigo fazer mais do que umas pequenas corridas de 4 a 5 km perto de casa. Sempre pratiquei, sempre corri (quando não estava lesionado) e muitas vezes fazia alguns exercícios em casa. Agora nada. E isso não é bom. Sinto-me a engordar, a ficar flácido e faz-me falta aquela sensação de corpo suado e de cansaço físico. Até agora só mesmo mental. E não está fácil. Todos os dias acordo com a sensação, em milésimos de segundos, que já está tudo bem. Só que não. Vamos então evitar a fazer (e pensar) o que nos faz mal. Cuidem-se!