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Like A Man

30 de Março, 2020

6 auscultadores para os tempos de pandemia (e não só)

Filipe Gil

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Texto (escolhas e testes) por Fernando Marques

Numa altura em que a maioria das famílias está em casa, ouvir a nossa música preferida sem incomodar os outros torna-se um verdadeiro desafio. Nada que os seis auscultadores testados não resolvam. Com o cancelamento ativo de ruído, uma tecnologia que atingiu a sua maturidade, e permitindo desfrutar a música com extrema qualidade, basta escolher o modelo mais acertado.

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Apple AirPods Pro – €279

Estes auriculares intra-aurais (colocam-se dentro dos ouvidos) são um “poço” de tecnologia, o que por si só podia não querer dizer nada, mas neste caso significa muito. Temos de reconhecer que a qualidade sonora dos auriculares que costumam vir juntamente com os iPods e iPhones nunca foi uma referência.

Os AirPods Pro terão de ser comprados à parte e não são baratos, mas a Apple desta vez excedeu-se e, ao que parece, com uma aposta vencedora. A qualidade do som é excelente, com graves na quantidade certa, para não estragar a gama média, e agudos suaves, mas musicais. O manancial tecnológico parece não ter fim: otimização da pressão atmosférica, carregamento sem fios, cancelamento ativo de ruído, dois microfones analisam permanentemente a música que estamos a ouvir e o ruído exterior de forma a “limpar” tudo o que está a mais. No modo de transparência podemos escolher quanto som exterior queremos ouvir, até ao completo isolamento. A partilha de áudio permite dividir conteúdos de áudio entre dois pares de AirPods, assim jogar, ver filmes e ouvir música pode ser feito com companhia.

Tudo isto num tamanho verdadeiramente pequeno, sem fios nem botões, em que tudo é controlado num sensor tátil na haste dos auriculares, e autonomia até 4,5h com uma carga completa, estendida até 24h quando colocados na caixa de carregamento sem fios.

 

AKG_Product Image_Y500 Wirless_Blue[1].jpgAKG Y500 – €149,90

Os Y500 são os auscultadores supra-aurais (colocam-se por cima das orelhas) com cancelamento ativo de ruído mais baratos desta lista. Ainda assim, a qualidade de construção não foi descurada, com um design elegante e várias cores à escolha. São wireless, mas podem ser usados com fio – infelizmente, a qualidade do som, apesar de satisfatória, é limitada pelo codec que não é APTX, o que permitiria uma qualidade superior. No entanto, são muito leves, razoavelmente confortáveis e têm alguns truques na “manga”, como parar a música automaticamente sempre que os tiramos, retomando quando os voltamos a colocar na cabeça. A autonomia é o seu ponto forte, permitindo até 33h de utilização com uma carga.

Bose_Headphones_700_Silver_1987_5.jpgBose Noise Cancelling Headphones 700 – €399,95

A Bose é das marcas que há mais tempo aposta na tecnologia de cancelamento ativo de ruído em auscultadores. E, se as primeiras abordagens não foram muito convincentes, a insistência deu frutos. Os 700 são o expoente máximo da marca, mostrando o que é possível fazer atualmente em termos de hardware e software com um algoritmo otimizado para eliminar tudo o que não seja não só música, mas também a nossa voz em chamadas telefónicas. A aposta no design é clara, com um aspeto distinto e elegante. Uma vez colocados na cabeça parecem mais leves do que são na realidade, e são muito confortáveis em períodos de audição prolongados, uma vez que as orelhas ficam totalmente dentro das almofadas. Para tirar partido do potencial dos NCH 700 deverá instalar a app que a marca disponibiliza para android e iOS.

Nela podemos monitorizar o emparelhamento com os diversos equipamentos, bem como definir a gosto o nível de cancelamento de ruído perante as condições de audição. Depois, tudo pode ser controlado na superfície tátil do auscultador direito, ou com os assistentes virtuais Alexa – pré-instalada, ou Google Assistant e Siri premindo um botão. A qualidade de som é excelente com o cancelamento de ruído ligado, experimentámos vários géneros de música, ficando sempre impressionados com o detalhe em todas as frequências.

Com tanta tecnologia a funcionar permanentemente, a autonomia é ainda assim muito razoável, com uma carga a permitir cerca de 20h de utilização.

marshall-mid-anc-black-01[1].jpgMarshall MID A.N.C. – €269

Estes auscultadores Marshall utilizam a mesma tecnologia aplicada nos Monitor, o modelo topo de gama da marca, e são um pouco mais baratos. A diferença óbvia é que o diâmetro das almofadas não envolve toda a orelha e, por isso, assentam em cima dela.

Ainda assim, este Marshall MID A.N.C. juntamente com os Monitor são os auscultadores da marca que melhor tocam. O que inicialmente parecia ser apenas um exercício de estilo – com os primeiros auscultadores a apelarem aos fãs da marca de amplificadores de guitarra – já pode ser levado a sério pelos mais exigentes. Na verdade, o Active Noise Canceling faz um trabalho competente no que à redução de ruído diz respeito, sem com isso sacrificar a reprodução musical.

Com uma autonomia até 20h, serão ideais para quem se desloca em transportes públicos e não abdica do seu estilo rock n’ roll.

SONY-1200-80[1].jpgSony WH-1000XM3 – €380

Estes são os únicos auscultadores da lista com um prémio EISA 2019/20, atribuído por especialistas em eletrónica de consumo de 29 países. Com um design sóbrio, os WH-1000XM3 serão porventura os auscultadores com os graves mais poderosos da lista, conseguindo satisfazer, sem problema, todos os adeptos de música rock, eletrónica e hip-hop.

Mas, as virtudes sonoras não se ficam por aí. Apesar do grave ser potente, é de qualidade suficiente para o desempenho em ambientes sonoros mais delicados como o jazz ou até a música clássica. A lista de tecnologias incluídas nos WH-1000XM3 é demasiado extensa para a elencar na totalidade. Fica a referência à implementação da mais recente norma Bluetooth com NFC e LDAC para uma transmissão de dados que permite ouvir ficheiros de áudio em alta resolução sem perder qualidade. Há ainda a otimização da pressão atmosférica, útil sobretudo quando se viaja de avião.

Podemos controlar tudo numa app disponível para Android e iOS ou, de forma mais prática, no painel sensível ao toque do auscultador. Os Sony WH-1000XM3 são grandes, as suas almofadas envolvem toda a orelha, e são extremamente confortáveis em utilizações prolongadas. Felizmente, a sua autonomia é grande e só precisamos de os carregar a cada 30 horas.

Bowers&Wilkins-PX5-Front-Angle-Space-Grey[1].jpgBowers & Wilkins PX5 – €209,99 (promoção por tempo limitado)

Estes são os auscultadores que sugerimos de uma marca com grande reputação no mundo da alta fidelidade e a assinatura sonora é bem característica das colunas de som Bowers & Wilkins. Se, por um lado, a tecnologia utilizada nos PX5 está a par com os melhores desta seleção, o que os diferencia está na escolha de materiais mais exóticos na sua construção, como é o caso da fibra de carbono. São confortáveis, mas penalizam quem usa óculos ao fim poucas horas. Os controlos ainda são feitos através de botões físicos, apesar de dispor de uma solução inteligente que pára automaticamente a música quando levantamos um dos auscultadores. O cancelamento de ruído ativo funciona muito bem ao proporcionar uma qualidade de som irrepreensível, que pode durar até 25h de utilização.

 

 

25 de Março, 2020

Da minha varanda sei do bairro

André de Atayde

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Há quem diga que a televisão é a janela para o mundo. Aposto que a primeira pessoa que disse isso não tinha varanda em casa. Em tempo de quarentena, a varanda é a nova esplanada onde se bebem cervejas com os amigos. E é, também, um motivo de arrependimento para todos aqueles que as quiseram transformar em marquises...

 

1

Todos os dias o senhor engenheiro chega a casa no seu carro híbrido e deixa um rasto de ópera pelo bairro. Nunca abre as persianas ou as janelas. Nunca abria, porque desde que a quarentena começou, o apartamento no 3º andar do prédio na diagonal-direita à minha varanda ganhou uma nova vida. Imagine-se que o senhor engenheiro até vem à varanda regar as parcas plantas que habitam os canteiros.

 

2

De manhã, enquanto bebo café, o vizinho do primeiro andar do prédio da frente, joga sempre a mão ao alto para atirar um bom dia de voz grossa. Já a mulher aproveita para endireitar as sobrancelhas à varanda, pinça a pinça, de espelho redondo na mão. Mas só depois do almoço, quando o sol bate na varanda.

 

3

Por baixo há um cabeleireiro, fechado por estas alturas, mas que desconfio servir também de casa para a proprietária, embora acredite ter poucas condições para alojamento. Mas é a Lisboa a que nos vamos habituando, infelizmente… A dona tem nome de moeda italiana antes do Euro e uma cadela chata, a Mel, que ladra a tudo e a todos. Mas não morde. Ou nunca mordeu. Sempre me perguntei do que é que um cabeleireiro de bairro consegue (sobre)viver. Ainda não tive resposta sólida a isso.

 

4

No rés do chão do meu prédio há uma padaria que continua a aberta por estes dias - tem uns croissants bons. A rapariga que lá trabalha tentou mudar o horário de funcionamento mas o patrão não deixou. Continua a abrir de manhã, a fechar pelas 13h e a reabrir das 17h às 19h. Quatro horas de intervalo passadas em transportes públicos entre casa e trabalho… não havia necessidade.

 

5

No prédio à esquerda há música às dez da noite, todos os dias. Haja, ou não, gente à janela. Começou com o bater das palmas como agradecimento aos profissionais de saúde e tem perdurado no tempo. Daquela casa já saiu Bruce Springsteen, Queen, Zeca Afonso, Sérgio Godinho, e outros. A adesão dos vizinhos já não é a melhor, mas é um hábito interessante.

 

6

O meu vizinho de cima toca concertina todos os dias. Antigamente às 19h, agora às 21h. O som mal se ouve, mas o bater do pé a marcar o ritmo é uma chatice. Mas são tempos atípicos, e está tudo bem.

 

7

Nunca mais vi o vizinho que passeia os dois cães como se estivesse numa barragem a fazer wakeboard. Espero-o bem.

 

8

Há obras na minha rua. Todos os dias. Começam uma coisa num lado e depois passam para outro, sem acabarem o que começaram. Nunca percebi obras municipais e estes dias na varanda também não têm ajudado a solidificar esse conhecimento.

23 de Março, 2020

Primeira semana de quarentena: o balanço.

João NC

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Depois de uma semana inteira em quarentena, é seguro fazer um primeiro balanço da “experiência”. Pontos altos e pontos baixos, o que mudou e o que estamos a aprender no processo.

Mas antes de mais, importa fazer aqui a distinção entre as pessoas que estão neste processo sozinhas, ou apenas acompanhadas de adultos, e as que têm crianças em casa. Para essas acabei de acender uma velinha aqui em casa. Os meus pensamentos estão convosco, malta. Aguentem firme. A boa notícia é que se chegarem ao fim disto mentalmente sãos, serão capazes de aguentar tudo. Sim, isto é o vosso Vietname.

Não consigo imaginar o que será estar dias e dias fechado em casa com crianças cheias de energia, ávidas de actividades e atenção. Não me interpretem mal, eu adoro crianças. Mas também gosto de montanhas russas e não queria estar numa durante uma semana inteira em modo non stop. O sentimento deve ser mais ou menos o mesmo, sendo que a montanha russa não é sangue do nosso sangue. Ou seja, com a montanha russa até podemos ser negligentes. Com as crianças nem tanto. Bom, não na primeira semana, pelo menos.

Mas vou cingir-me àquilo que sei melhor: a quarentena de um solteiro. Não posso dizer que esteja a ser um desastre. Claro que sinto falta de sair de casa, sobretudo para fazer desporto, andar de moto e para estar com pessoas, claro. Mas mesmo neste capítulo, e para ser justo, a coisa até não tem sido má de todo.

Senão vejamos: numa semana normal (de 2ª a 6ª), entre a correria do trabalho, os treinos ao final do dia e outros afazeres, raramente tinha tempo para estar com os amigos e mesmo falar ao telefone era uma coisa muito esporádica. Nesta semana foi raro o dia em que não tive telefonemas e/ou facetimes com amigos. Entre a necessidade de saber se estávamos bem e a vontade de falar (para os solteiros) e de desabafar (para os casados), a coisa deu-se com muita frequência. 1-0 para a quarentena, portanto.

Com os pais, a mesma coisa. A necessidade de saber se estavam bem e os ralhetes constantes por estarem a ir à rua sem qualquer necessidade (sim, já percebi que estamos todos a passar por esta inversão de papéis) traduziu-se em telefonemas diários. Algo que nunca faço em semanas normais, apesar dos lamentos da mãezinha. A mesma que agora até acha estranho que lhe ligue todos os dias. Vá lá entender-se! 2-0 para a quarentena.

Ao fim de semana a coisa muda de figura. Por momentos ainda pensei que viesse chuva, o que ia ajudar à manutenção do status mais caseiro, mas não. Estava bom tempo e, mesmo com varanda, fica mais difícil gerir a vontade de sair. Estava mesmo a pedir uma volta de moto ou de bicicleta. Ou “só” uma ida à esplanada. 2-1

Se calhar devia ter começado por aqui, mas convém dizer que não me recordo sequer do último dia, antes de isto tudo, em que estive um dia inteiro em casa. Sou aquele tipo de indivíduo que tem/tinha de sair de casa. Sair para tomar café ao fim de semana de manhã, de preferência numa esplanada, é programa obrigatório. E depois é fazer coisas, ler, apanhar ar, ver pessoas. Sempre me fez espécie as pessoas que são capazes de passar um dia inteiro em casa, de pijama. Não julgo, mas também não compreendo. Agora tenho que me conformar, está visto. Karma is a bitch!

Claro que podia sair, dar uma volta ou até fazer exercício físico sem ninguém por perto. Mas pensem comigo: o que aconteceria se TODOS pensássemos assim? Pois. Há que controlar o ímpeto e fazer um esforço. É para o bem de todos, já se sabe.

O máximo a que me permiti, para além das idas ao supermercado, foi fazer três viagens - no mesmo dia - até ao ecoponto mais próximo (a uns 150 metros de casa): uma para o lixo normal, outra para os plásticos e a terceira para o papel/cartão. Claro que podia ter levado tudo de uma vez, mas aproveitei para esticar as pernas. Quem não tem cão caça com a separação do lixo.

Quanto ao trabalho, tenho a sorte de poder continuar a fazê-lo a partir de casa. Digo sorte, porque daria em doido se não estivesse ocupado durante o dia. E a verdade é que a coisa faz-se. Claro que obriga a muita ginástica entre vídeo calls, teams, slacks, whatsapps, vpn’s, intranet e toda uma panóplia de APPs e ferramentas que nos mantêm ligados ao ponto de, às vezes, ser difícil fazer algo tão simples como ir à casa de banho. Mas faz-se.

Tal como o treino. Não sei se repararam no que está a acontecer, mas é impressionante a capacidade de adaptação que estamos a demonstrar. Ele há treinos em directo no instagram, no facebook e no Youtube. Até os grandes ginásios se estão a adaptar a esta nova realidade, e ainda bem. Se me permitem a sugestão, recomendo a Move Hiit, que tem treinos live no Instagram três vezes por semana, disponibiliza treinos no seu feed e, esta semana, arranca com treinos diários na Sport TV+ às 9 horas da manhã.

Não adoro treinar em casa, mas hey! faço questão de caber na roupa quando tudo isto acabar.

E por falar em roupa, como está isso a correr por aí? Não vão dizer-me que andam a reduzir o número de banhos e vestem a primeira coisa que aparece, certo? Malta, é preciso manter as rotinas. Banho matinal ou antes de deitar, conforme a preferência, e vistam-se (quase) como se fossem trabalhar. Claro que aqui excluo a malta que normalmente trabalha de fato e parto do princípio de que vestem roupa confortável no dia a dia. Agora, fato treino e pijama todo o santo dia é que não, ok? É todo um élan que se perde (sempre quis usar esta expressão num post). E, acreditem, isso vai mexer com a vossa cabeça.

E refeições? Não sei como está a correr convosco, mas eu estou um ás dos grelhados. Estou longe de ser um bom cozinheiro, mas para já consegui a proeza de ainda não ter recorrido ao take away. Se tiverem boas – e práticas – receitas que envolvam grelhados, forno ou a Bimby, façam o favor de partilhar. Temos de ser uns para os outros. #estamosjuntos

De resto, imagino que os meus dias não sejam muito diferentes dos vossos, solteiros e/ou casados/namorados sem filhos (ou outros já sabemos que é outro campeonato). Alguma TV streaming, na qual destaco "Don't *uck with cats" na Netflix e "Outsider" na HBO, que vi quase de enfiada no fim de semana passado. São ambos meio dark mas muito bons.

E depois tem havido muita arrumação aqui por casa. Desde que isto começou já preguei quadros que estavam encostados há meses, renovei molduras, arrumei armários e descobri coisa que julgava perdidas para sempre.

Afinal ainda há coisas boas nesta quarentena. Mas não facilitem. Mantenham-se por casa e tentem tirar o melhor partido disto tudo. Se nos mantivermos saudáveis não será assim tão mau.

#stayathome #staysafe

 

21 de Março, 2020

Viver em isolamento social. É esta a nossa nova vida?

Filipe Gil

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Temos andado calados. Ainda mais do que o normal. Estamos a adaptar-nos à nova realidade, como todos. Cada um em sua casa. Uns sozinhos, outros em família. Quase todos a trabalhar como se não houvesse amanhã – e como será o amanhã?

No meu caso, fechado em casa com a mulher e dois filhos, um de 7 e outro de 11, a vida tem sido, mais ou menos esta:

08:00 – Acordar e carregar no snooze.

08:30 – Levantar da cama depois do update de notícias e redes sociais

09:00 – Tomar banho e vestir (algo confortável, mas nunca pijama) e depois acordar as crias.

09:20 – Dar pequeno-almoço aos pequenos, vestir e arrumar a casa (fazer a cama, guardar roupa, etc.).

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10:00 – Começar a trabalhar. Muito. Mesmo muito.

11:00 – Levantar para dar assistência aos TPC's dos miúdos

11:15 – Voltar ao trabalho.

13:30 – Parar de trabalhar para ir almoçar. Geralmente é a mulher que faz o almoço, eu faço o jantar. Ajudo a pôr a mesa e fazer update dos trabalhos e lavar a loiça. Quem não cozinha fica com essa tarefa.

13:45 – Almoço, café e mais redes sociais.

14:15 – Voltar ao trabalho (e ser interrompido inúmeras vezes pelos filhos. Por TPC's, pela bola que não encontram, para ir jogar PES, etc.)

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19:30 – Começar a pensar em parar de trabalhar.

20:00 – Parar de trabalhar e começar a cozinhar

20:40 – Jantar.

21:00 – Jogar PES com os miúdos

22:00 – Pôr os putos na cama, ou pelo menos tentar.

22:30 – Os putos finalmente vão para a cama.

22:45 – Sentar e conversar com a mulher e tentar ver uma série na Netflix.

23:00 – Quase a adormecer logo nas primeiras cenas, mas a resistir.

23:15 – Resisti! Ver um episódio de uma série, beber um whisky.

23:00 – O sono foi-se.

00:45 – Ir para a cama sem sono.

01:00 - Dormir sem descansar.

08:00 - Recomeça tudo de novo

Com alguma nuances este tem sido o dia-a-dia desde a passada sexta-feira, dia 13 de março. Desde aí estou em teletrabalho e só saí duas vezes brevemente. Não está a ser fácil. E não vai ser fácil. Sinto-me muito cansado, sobretudo porque durmo mal, sono irrequieto. Mas há que manter o espírito positivo. Vamos ficar todos bem.

09 de Março, 2020

Quando conseguimos realizar um sonho...

Filipe Gil

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Fotografias por Fernando Marques

Sou capaz de ser a pessoa que há mais anos vê programas de culinária na TV. Já em 2004 quando, a viver nos Países Baixos, conheci pela televisão um inglês chamado Jamie Oliver. Os seus livros, programas de TV e até um restaurante (O Fifteen) estavam por todo o lado naquele país - mesmo todo o lado. E com isso uma série de clones a surgirem na televisão holandesa com programas de culinária para gente normal como eu. Ficava horas a olhar para aquilo (e para os frigoríficos da Smeg no cenário). 

Já cá em Portugal, comecei a ver os programas do chef Henrique Sá Pessoa, conheci, de vista, o chef Chakall numa apresentação da Embaixada Argentina no El Corte Inglés. E daí foi sempre a somar: 24 Kitchen, programas do Gordon Ramsay, Pesadelo na Cozinha com o Chef Ljubomir Stanisic e, claro, os programa do Netflix com o fantástico Chef’s Table à cabeça, o filme Burnt, etc. Tudo isto sem, praticamente fazer um ovo estrelado ou uma omelete. Cá em casa ouvia, várias vezes: “passas horas a ver esses programas mas não vais para a cozinha”. 

Mais tarde, por questões profissionais comecei a ter contactos com chef’s e restaurantes. Como jornalista e até mesmo aqui no blogue (onde muitas vezes fizemos nota de novos restaurantes que fomos experimentando). 

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Ora, há cerca de dois anos quando assumi a edição do projeto DN Ócio passei a conhecer e a conviver com chefs e com críticos de comida e com jornalistas que percebem muito, mas muito, de comida. E tive a sorte, apesar de ser hiper cansativo, de ter ido à última cerimónia da entrega das estrelas do Guia Michelin - quase 24 horas a trabalhar non stop. 

Tanta prosa para dizer que já andava, desde então com a ideia de ir experimentar o ambiente de uma cozinha profissional. 

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Será que é como se lê, vê e ouve por aí? Será que iria gostar e trazer ensinamentos para casa (finalmente)?

A experiência aconteceu, e o sonho realizado: fui cozinhar para a cozinha de um restaurante do Guia Michelin. Em Lisboa, no restaurante Sála do chef João Sá, que desde novembro de 2019 é referenciado no famoso guia (ainda sem estrelas, mas não devem faltar dentro de um ou dois anos). Podem ler a reportagem na DN Ócio.

 

Foi um dia inteiro a trabalhar e a conhecer melhor como se gere e lidera e cozinha. Foi um sonho realizado. E sim, hoje em dia sou eu que pego, maioritariamente, nos tachos. Não todos os dias, mas quase. Gostei muito e ficou o bichinho de aprender mais. Não estivesse já a meio da minha década dos quarenta e se calhar mudava de vida...

 

Mesmo assim, foi um sonho realizado. E vale a pena lutar por isso. Só temos uma vida. E vocês, lutam para realizar os vossos sonhos?

 

02 de Março, 2020

O amor é cego? A Netflix diz que sim.

João NC

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Tropecei no “Love is blind” - um reality show que a Netflix estreou no mês passado - por acaso. Mas não foi por acaso que fiquei a ver.

Confesso o meu fascínio por tudo o que é interacção humana, sobretudo aquelas que nos permitem, como espectadores, perceber e identificar os diversos tipos de pessoas que vamos conhecendo ao longo da vida. Mas já lá vamos. Para já convém dizer que aqui não há agricultores à procura de noivas nem casais que se conhecem no altar. Mas há amor que “nasce” e é incubado em cápsulas, o que é mais moderno, convenhamos, e mais apropriado a uma plataforma como a Netflix.

 

Há algum tempo que muitos dos reality shows adoptaram o epíteto “experiência social” e, neste caso, a coisa até não andará longe da verdade. Ora, esta experiência começa com duas casas contíguas, uma para os homens, outra para as mulheres. Ao meio, uma mão cheia de cabines (cápsulas) com uma porta para casa lado da casa. Dentro de cada uma das cápsulas há sofás, mesas, e até algo para beber, no sentido de proporcionar aos concorrentes o ambiente ideal para se sentirem em casa, descontraírem e, claro, se soltarem. Afinal, é ali que se vão dar os dates.

Há, no entanto, uma particularidade associada a estas cápsulas: os casais “to be” não se podem ver. Ou seja, a ideia é que se conquistem e acabem por apaixonar-se única e exclusivamente pela sua personalidade. É esta a premissa do programa, uma “experiência social”, recordo. E estes são os nossos “ratos de laboratório”. Voluntários, no caso.

Numa lógica de speed date, os pares vão passando de cápsula em cápsula, de bloco de notas na mão, tentando encontrar o perfect match. É uma espécie de Tinder sem ter que se dar ao dedo, mas com menos escolha, mais conversa e menos fotos em biquini e/ou em frente ao espelho do ginásio enquanto se encolhe a barriga. Tudo a bem da ciência.

Ora bem, o que sucede a seguir chega a ser ternurento. Ao fim de três dias disto, em que se vão eliminado pretendentes, repetindo pares em dates sucessivos, chorando aqui e ali por conta de experiências passadas ou antecipação de experiências futuras, há casais que se vão formando, entre juras de compromissos duradouros e a mais profunda ligação, “como nunca antes haviam experimentado”.

Caríssimos/as, há indivíduos que acabam esta primeira fase - dias (!) depois de ter começado - a dizer que se amam! (Volta Big Brother com os teus célebres “são 24 horas sobre 24 horas” e “Só quem está lá dentro é que sabe”!)

Mas há mais. Até porque as regras do programa mandam que para sair dali os pares têm de ir de casamento marcado. Isso mesmo, o compromisso é sério e há pedidos de casamento com joelho no chão e tudo (com o pretendente a olhar para uma parede). Ou julgavam que isto era só sexo? Ah, espera, eles ainda não se viram.

E assim acontece. No final desta primeira fase há uma mão cheia de pares que se formam e decidem sair como tal. Uma saída precária, tal é o medo de descobrir o que estava do outro lado. O que é resolvido, desde logo, pela produção: um longo corredor com duas portas nas extremidades, que se deslizam para revelar aos noivos a dimensão física da pessoa por quem se apaixonaram. E aqui começamos a ver os primeiros resultados da experiência: todos, sem excepção, se mostraram muito contentes (aliviados?) por descobrir que a sua escolha foi acertada. O que, viremos a saber mais tarde, não é bem assim.

Dali os casais partem então para uma pré-lua de mel num resort no México com o objectivo de se conhecerem “melhor”. E ao fazê-lo vão revelando aquilo que, para quem cá anda há uns anitos, nos parece mais ou menos evidente: estamos longe – muito longe – do avanço civilizacional que nos permitirá dizer que gostamos do outro apenas pelo que ele é intrinsecamente. Claro que isso será sempre essencial numa relação, seja ela amorosa ou outra, mas quando falamos em escolher alguém para passar o resto dos nossos dias, questões como a dimensão física (onde incluímos a aparência, mas também o cheiro – ah, as feromonas! – e até o toque), o background familiar e social, a idade, e a forma como lidamos com temas essenciais como o dinheiro, por exemplo, continuam a contribuir para a forma como encaixamos a nossa vida na do outro.

Podemos ser almas gémeas na forma como gostamos de passar os fins de semana, no número de filhos que queremos ter, na raça de cão que preferimos para fazer pandã com as crianças, ou na forma como vemos a relação com a família, mas há todo um outro mundo de diferenças que se pode interpor entres nós e o “amor da nossa vida”. E não há programa de televisão que mude isso. Mesmo que a “televisão” seja emitida em streaming.

Para desanuviar, fiquem com um apanhado dos casais que mais se destacaram nesta primeira série de “Love is Blind”, com a ressalva de que há data desta crónica, ainda não tínhamos chegado à parte dos casamentos. Ora vejam lá se não conhecem pessoas assim:

Amber & Barnett

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Se ela tem a estabilidade emocional de uma montanha-russa, ele parece anestesiado, não se sabe se pela experiência, se pelo facto de ter escolhido alguém que dá a ideia de ter caído no caldeirão dos ácidos quando era pequena. Se tivesse que apostar, diria que vai correr mal. Barnett (até pelo nome) é o típico “all american guy”. Rapaz popular no liceu, na faculdade e na vida, não parece ter motivos para a levar (à vida) muito a sério – e não leva. Parece surpreendido por ter encontrado alguém ainda mais imaturo do que ela.  

Amber, aos vinte e poucos anos, tem o sonho de ser uma “stay at home mum", o que quer dizer que não está para trabalhar. Para quem vem com uma bagagem de vinte mil dólares de dívida por conta de um empréstimo para pagar uma faculdade que nunca terminou, não está nada mal. E ele vai descobrindo isto aos poucos, sendo possível perceber-se o entusiasmo a diminuir a cada revelação. Bem-vindo à idade adulta, meu caro, onde o bom sexo não é tudo.

Lauren & Cameron

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O único casal inter-racial do grupo. Ela é negra, e gira que se farta, ele parece um “príncipe da Disney” (palavras dela). Para um homem da ciência - o rapaz é “cientista” - parece ter mais emoções do que consegue gerir, o que não deixa de ser um paradoxo. Infelizmente para eles, esse não parece ser o único problema que vão ter de resolver.

Estamos perante um caso claro de mistura de identidades. Ele - o homem - está prontíssimo para assentar. Vive sozinho numa casa com dois pisos e três quartos, pronta a receber uma família que ele desesperadamente quer criar. Ela - a mulher - aparentemente disponível e desprendida, a cada dia que passa parece estar mais incerta sobre essa coisa “assustadora” de perder a sua liberdade. O que poderia ser apenas um detalhe curioso desta história, parece ser importante o suficiente para ameaçar a harmonia do casal: é notório o “desentusiasmo” de Lauren à medida que a data do casamento se aproxima. E esta? A humanidade inteira a achar que são os homens a lidar pior com a noção de compromisso e vem este “tratado científico” provar o contrário.

Para o argumento da “social experiment”, convém também referir a questão racial. Aquilo que para mim seria um não-assunto, no contexto norte-americano para ser algo relevante. O pai de Lauren é um defensor acérrimo da lógica que negros devem casar com negros, o que faz com que não veja com muito bons olhos a chegada de um “branquela” à família. E, sim, isso está a pesar na decisão de Lauren. Será o amor cego e também daltónico? Veremos.

 

Jessica & Mark

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Um casal que quase nem conta para o campeonato, de tão evidente que vai correr mal. Mas pode ser visto como um case study. Senão vejamos: apesar dos 10 anos de diferença (ela tem 34, ele 24), começaram muito bem. Almas gémeas, dir-se-ia. Moram na mesma cidade, gostam de praticar desporto (ele até trabalha na área do fitness), ambos são muito ligados aos valores da família e – caramba – até têm cães da mesma raça. Se isto não é um “match made in heaven” então não sei o que será. Bom... e daí até sei. É uma tontice pegada.

Ele é demasiado jovem e imaturo, e está claramente deslumbrado com tudo isto. Ela é manipuladora e completamente impreparada para lidar com as suas próprias emoções.

Resultado: o pobre Matt é manipulado emocionalmente com a facilidade que se adivinha possível para uma mulher de 34 anos manipular um jovem de 24. Mas não é uma questão de género, atenção. Quem nunca viu uma situação semelhante, mas com os papéis invertidos? Eu já.

 

Kenny & Kelly

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Como se pode perceber pela feliz conjugação dos nomes, são muito fofos, estes dois. Podiam facilmente figurar num anúncio para uma seguradora, num cenário idílico, com uma casa de dois pisos por trás, num relvado bem tratado, cerca de madeira e um golden retriever a correr livremente.  
Mas a verdade parece ser outra. Um caso típico, de novo. Ao que parece, o rapaz não corresponde ao estereótipo físico daquilo que têm sido as escolhas dela ao longo da vida. O que, para ela estar num programa de televisão pronta a casar-se com um estranho, parece estar a correr muito bem. Ele é louro, ela prefere os morenos. Ele tem ar de bom rapaz, ela deve preferir os bad boys (quem nunca?). Mas estão a insistir. Dormem juntos mas sem avançar para lá de uns amassos. Diz ela que não quer que uma coisa tão banal, como a relação física, estrague algo tão bom como o que eles têm... Certo! Kenny, se me estás a ler, fica a dica: espero que te estejam a pagar bem, porque dinheiro deve ser a única coisa que vais levar daí.

 

Giannina & Damian

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A melhor forma de vos explicar o que se passa entre estes dois é recorrendo a uma analogia: ela será os Açores, ele o Alentejo. Nela há sol de manhã, chuva à hora de almoço, uma onda de calor a meio da tarde e um frio de rachar de madrugada. Nele há uma planície dourada, onde pouco ou nada se passa, até que se “passa”. E aí vira o fim de Festa do Avante, em versão tumultuosa e truculenta. Fica irritado, tenso e vai buscar coisas que estavam claramente a incomodá-lo, mas que devia ter dito há três dias. Parece-vos familiar? Pois, isto é uma experiência social, lembram-se?


Fiquem com o trailer, mas depois não digam que não vos avisei.