O primo que veio aí!
Lembro-me como fosse ontem. Andava nervoso. Muito. Cá dentro, só para mim, e apenas com 10 anos, pesava-me o mundo e todos os dias pensava no meu primo que ia nascer. Via a barriga da minha tia crescer e a ânsia a aumentar todos os dias.
Uns anos antes, o nascimento da minha irmã passou-me um pedaço ao lado. Lembro-me dela a entrar pela casa adentro, da minha desilusão de não ter sido um rapaz e dos olhos verdes do meu pai efusivamente a escolher um nome. Bahhhh. Só me lembro dos ciúmes!
Mas na espera do meu primo que dali a umas semanas ia ocupar o lugar dele por direito naquela casa, na qual eu tanto gostava de ficar, os nervos foram grandes até aos últimos dias.
E em meados de outubro de 1984, dez anos e uns meses depois de mim, o meu primo nasceu. E com uma grande surpresa. Não vinha sozinho. Eram dois. Gémeos. Lembro-me da minha mãe, com uma cara de espanto, a contar o telefonema que tinha recebido: eram dois. Dois. Gémeos. Grandes. Rapazes, quase iguais. Saudáveis.
E minha primeira preocupação foi arranjar nome para o segundo. Tinha tido influência no primeiro. A coisa foi resolvida prontamente pelos meus tios.
Antes dos fast foward, uma cena que nunca, mas nunca, vou esquecer. Dois rapazes é muita fruta, sobretudo para quem não está à espera que isso aconteça. Lembro-me que um deles, o André, veio passar uns dias a minha casa. Dias depois, quando os gémeos se reencontraram, abraçaram-se, naquele abraço trôpego que só os bebés conseguem fazer. Tinham meses. E nunca mais me vou esquecer daquele gesto.
Aqui então, o prometido Fast forward (porque já ninguém tem paciência para ler muito). Este tal primo, que afinal são dois, nunca me abandonaram, fomos sempre presentes. Em criança (eu já adolescente) passávamos sempre os Natais juntos, na mesma casa, a jogar consola até altas horas. Umas vezes estamos com mais frequência, outras com menos. Há alturas em que nos encontramos várias vezes por mês, outras que passam meses sem sabermos uns dos outros. Mas estamos lá sempre. Na alegria e na tristeza. O Pedro e o André. Os gémeos. Tão iguais quanto diferentes.
Para mim sempre foram um misto de irmãos mais novos e primos. Aliás, conto-vos: são meus primos duas vezes. A minha tia, irmã da minha mãe, casou com um primo direito do meu pai. Por isso, são primos a dobrar.
Tudo isto para dizer que 35 anos depois um deles foi pai. E hoje, dia 28 de maio, nasceu o Afonso. Para além da saúde e felicidade, só espero que seja tão próximos dos primos (os meus filhos) como eu sou dos gémeos. Parabéns puto André. Agora tudo muda, e embora por vezes não pareça, é para melhor. Muito melhor.
Venha o próximo primo!